30 novembro 2024

009-A União de Cristo com a Igreja - Cristologia Lição -09[Pr Afonso Chaves]28nov2024

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LIÇÃO 9 

A UNIÃO DE CRISTO COM A IGREJA

TEXTO ÁUREO: “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe gria, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.” (Ap 19.7-8) 

LEITURA BÍBLICA: SALMO 45.1-11 

INTRODUÇÃO Na lição de hoje, trataremos da relação de Cristo e de toda a Sua obra com a Igreja. Embora conhecida desde o princípio nas gerações daqueles que temiam ao Senhor Deus e aguardavam a manifestação da Sua salvação, a natureza e os privilégios da Igreja manifestaram-se plenamente através do Evangelho – isto é, com a vinda de Cristo a este mundo. Mais do que um grupo de pessoas que seguem a Cristo como Mestre, a Igreja é um organismo que participa da Sua própria vida e virtude por ter comunhão e formar com Ele uma unidade, de modo que, através dela, Cristo Jesus se faz tão, ou mais presente neste mundo atualmente do que nos dias da Sua carne. 

I – PREVISÃO DA UNIÃO DE CRISTO COM A IGREJA Para compreendermos a relação especial entre Cristo e a Igreja, é necessário primeiro conhecer as origens do povo de Deus e o que as Escrituras preveem a seu respeito – onde veremos que tanto no primeiro como no segundo aspecto essa relação entre Cristo e a Igreja havia sido prefigurada de diferentes maneiras. O propósito de Deus de formar para Si uma igreja – isto é, uma congregação – remonta ao princípio, quando Ele formou o primeiro casal à Sua imagem e semelhança para que homem e mulher, multiplicando-se e enchendo a terra, constituíssem uma espécie única de seres piedosos (Gn 1.26-28; Ml 2.15; At 17.26-27). Mas é por ocasião da Queda que se manifesta uma primeira figura da relação entre Cristo e a Igreja, na medida em que, do pecado de um único indivíduo, Adão, resultou o juízo de morte para toda a espécie humana que dele procederia; do mesmo modo que, da justiça de um único indivíduo, Jesus Cristo, resultaria a graça da vida eterna para todos os que n’Ele cressem. Deste modo, enquanto em Adão a humanidade falhou, aqueles que pela fé são reunidos a Cristo constituem uma nova humanidade, uma geração santa, justa e piedosa (Gn 5.1-3; Rm 5.12-14, 15, 19; Ef 4.20-24). Consideremos ainda como a união de Cristo com a Igreja é prevista na promessa que Deus fez a Abraão de abençoar todas as famílias da terra nele e na sua semente – o que, conforme explicado por Paulo, diz respeito tanto à relação da Igreja com o patriarca por imitar a sua fé; como também à relação da Igreja com Cristo, que é o descendente a quem foi feita esta promessa, e da qual participamos porque, através dessa mesma fé, somos identificados com Ele e revestidos d’Ele, formando com Cristo Jesus um só corpo (Gn 12.1-3; Gl 3.6-9, 16, 26-29). E mesmo o povo de Israel, embora fosse descendência de Abraão e tenha sido consagrado como a igreja de Deus sob a dispensação da lei e do primeiro concerto, não escapou a esse princípio, pois nem todo israelita tinha de fato a fé de Abraão e, portanto, não era seu filho em verdade; de modo que a união plena de que falamos, com seus privilégios e bênçãos, só poderia ser alcançada em Cristo, quando o povo de Deus abandonaria o estágio rudimentar das sombras e figuras de uma identidade nacional para alcançar a plena maturidade de filhos pela fé (Rm 9.6-8; Gl 4.1-7). Aliás, o fracasso e a rebeldia contumaz de Israel tanto evidenciaram, ainda naqueles dias, a realidade de que apenas um remanescente seria salvo, como permitiram aos profetas vislumbrar a glória da comunhão com Deus à qual o Messias restauraria o Seu povo. Dentre as várias figuras empregadas para descrever o quanto os israelitas haviam sido infiéis, e o quanto Deus, não obstante os castigos necessários para corrigi-los, permaneceria fiel ao Seu bom propósito de introduzi-los nessa comunhão gloriosa; sem dúvida a mais conhecida é a do casamento entre Deus e o Seu povo. Apesar de Israel ter se comportado como uma mulher adúltera, dissipando com deuses estranhos todos os bens e privilégios que havia recebido de Deus, como um esposo que ainda ama a mulher de sua mocidade, Deus não apenas estava disposto a recebê-lo de volta, mas de fato o faria, depois de castigá-lo, expurgar do meio dele os impenitentes e converter o remanescente, confirmando e selando para sempre Sua comunhão com o povo eleito (Os 2.1-4, 13-17; Ez 16.58-63; Jr 3.1; Is 54.1-5). 

II – A CONSUMAÇÃO DA UNIÃO DE CRISTO COM A IGREJA Com a proclamação do Evangelho de que o reino dos céus havia chegado, a espera do povo de Deus por aqu’Ele que foi coroado para regê-lo – o Messias – chega ao fim e, conforme a profecia constante da leitura bíblica, a união entre ambos, tipificada na figura do casamento, pode se realizar. O reino dos céus é representado então como uma festa nupcial – um banquete celebrando a união do Rei com a Sua esposa real. E, embora a ausência de Cristo entre Sua ascensão ao céu e Sua vinda no último dia signifique que os convidados deverão se entristecer por um pouco de tempo, ou que as virgens deverão tosquenejar durante a noite, as bodas não mais se encerrarão. O convite continuará sendo feito a todos que ainda não entraram, e naquele dia as bodas atingirão o seu momento de maior júbilo e exultação, quando a igreja dos justos aperfeiçoados se apresentará qual esposa devidamente adornada, conservada de toda mancha, para celebrar sua união com Cristo por toda a eternidade (Jo 3.29; Mt 9.14-15; 22.1-14; 25.1-13; Ap 19.7-9; 22.17). Certamente foi através do Seu sacrifício na cruz que a união entre Cristo e a Igreja – ou, do casamento entre ambos – se consumou, pois foi ali que Ele demonstrou o Seu amor por ela, entregando Sua vida, derramando Seu sangue, para resgatá-la e assegurar que, naquele dia, ela possa se apresentar perante Ele pura e incontaminada – qual esposa gloriosa, sem ruga nem mácula. Notemos que, da consciência de que Cristo Jesus morreu por nossos pecados é que nos resulta a paz, a alegria e a entrada em plena comunhão com Deus – que constituem o verdadeiro banquete do reino dos céus (Ef 5.25-27; Jo 3.16; Rm 5.8-10, 11; Ef 2.13-16; cf. Rm 14.17). Vale lembrar também a analogia entre a Igreja e Sara – assim como esta era mulher legítima de Abraão, tendo dado ao patriarca um filho que herdaria as promessas; a Igreja também, como esposa de Cristo, gera filhos livres da servidão da lei e do pecado, aptos a herdarem, juntamente com Cristo, as promessas (Gl 4.26-31). 

III – CONSEQUÊNCIAS DA UNIÃO DE CRISTO COM A IGREJA Como todas as demais coisas, e excetuando-se o próprio Deus, a Igreja foi submetida ao senhorio de Cristo, ainda que essa submissão se opere em voluntariedade e amor, resultando daí a comunhão entre ambos, completando-se como um só corpo, do qual Cristo é a cabeça e a Igreja os membros (Ef 5.22-24; 1 Co 12.12-14). Isto significa que Cristo não apenas está presente com a Sua igreja neste mundo, mas, através da Sua igreja, Ele mesmo operando a Sua vontade através dos membros do Seu corpo, na medida em que estes se aperfeiçoam na unidade do Espírito (Ef 4.10-16; Jo 15.4-5; 1 Jo 5.14-15). Reciprocamente, por formar um corpo com o seu Salvador, a Igreja está presente com Cristo nas regiões celestiais, onde também está assentada e participando dos privilégios e de todas as bênçãos do reino, tendo todas as coisas sujeitas aos seus pés (Ef 1.22-23; 2.1-7; Cl 3.1-3; 1 Co 15.54-57). 

CONCLUSÃO Como povo escolhido desde a eternidade para testemunhar a graça de Deus e participar do Seu eterno e imutável propósito de resgatar os homens do pecado e dar-lhes a vida eterna, a Igreja é um fruto glorioso da obra de Cristo, um prêmio que Ele contemplou na eternidade e, amando-a com o mesmo amor com que o Pai a amou, entregou a Sua própria vida para salvá-la e conceder-lhe participar conSigo da Sua bem-aventurada glória por toda a eternidade.  

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22 novembro 2024

008-O Reino e o Senhorio de Cristo - Cristologia Lição 08[Pr Afonso Chaves]21nov2024

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LIÇÃO 8

O REINO E O SENHORIO DE CRISTO 

TEXTO ÁUREO: “O SENHOR reina; está vestido de majestade; o SENHOR se revestiu e cingiu de fortaleza; o mundo também está firmado e não poderá vacilar.” (Salmo 93.1) 

LEITURA BÍBLICA: SALMO 2.1-12 

INTRODUÇÃO Nas últimas lições, estudamos como Cristo Jesus cumpriu a vontade de Deus ao se fazer homem e humilhar-se a si mesmo até a morte, e como por esta causa foi exaltado soberanamente acima de toda a criação. E, uma vez que já consideramos as implicações destes acontecimentos para o Seu exercício do ofício sacerdotal na presença de Deus, somos levados agora a refletir sobre o que significa a Sua entronização – isto é, o fato de Cristo ter assentado no trono de glória do reino de Deus. Veremos como o reinado de Cristo havia sido vislumbrado na profecia, como se manifestou, quais são suas implicações para o presente e como cumprirá todos os desígnios de Deus para esta criação. 

I – A PREVISÃO DO REINO DE CRISTO O reino de Deus é uma realidade presente desde o princípio da criação, uma vez que o Criador dos céus e da terra, e de tudo o que neles há, possui o direito de dispor de todas as coisas conforme Lhe apraz, e assim o fez ao longo de toda a história a fim de cumprir os Seus desígnios, e ninguém jamais pode se opor ou resistir à Sua vontade. Portanto, Ele é justamente celebrado como o Rei dos reis, cujo domínio se estende até os confins dos céus e da terra e dura de geração em geração, eternamente (Sl 47.7-8; 74.12; 145.13; 146.10). Mas, ao mesmo tempo, a revelação profética pouco a pouco vai desvendando o propósito de Deus, formulado antes da criação do mundo, de outorgar esse reino àquele que, tendo nascido de mulher, da descendência de Abraão e na tribo de Judá, foi escolhido e ungido para, através de um reinado de justiça e verdade, sujeitar e conquistar de volta para Deus todas as nações que haviam se separado d’Ele pela transgressão, e exercer a Sua ira contra aqueles que se resistissem à Sua autoridade real (Gn 22.16-18; 49.10; Nm 24.17-19; 1 Sm 2.10; Sl 2). Embora a instituição da monarquia em Israel tenha ocorrido em circunstâncias que revelavam mais a avidez do povo em ter um líder humano para governá-los assim como o tinham as demais nações, esquecendo-se eles de que o próprio Deus os governava; a eleição de Davi e as promessas firmadas por Deus em relação à sua linhagem confirmaram o caráter real da obra messiânica, na medida em que a descendência de Davi jamais seria privada do trono, mas reinaria eternamente sobre Israel (2 Sm 7.8-16; 23.3-5). E, por esta causa, os profetas não apenas anunciam o Messias como filho ou descendente de Davi, mas como o próprio Davi, o reinado do filho de Jessé prefigurando, em diversos aspectos, a prosperidade, paz, vitória e benção que acompanhariam ainda mais abundante e perpetuamente o reinado messiânico (Sl 89.3-4, 19-20; Ez 34.23-24). Notemos que mesmo o fato de nem todos os descendentes de Davi que se assentaram sobre o trono terem sido reis justos não ofuscou a promessa divina, mas antes serviu para privar os indignos da coroa e reservá-la para o tempo em que seria entregue àqu’Ele a quem pertence por direito (Is 7.14-16; Ez 21.25-27). Esse revés na casa de Davi também fortalecia a perspectiva de que a manifestação do reino messiânico traria em si um sinal de contradição para os incrédulos dentre os judeus: do mesmo modo que o próprio Davi fora conduzido ao trono humildemente, não por força nem por violência; assim também Cristo ascenderia ao trono a partir de um ramo da linhagem real que, embora legítimo, havia sido grandemente humilhado em razão do cativeiro babilônico, a ponto de cair no desprezo das gerações seguintes (Jr 52.31-34; Ag 2.23). E acrescentemos ainda que o reino do Messias seria também um sinal de contradição para os incrédulos dentre os gentios, pois, começando sem aparência nem relação com os reinos deste mundo – qual pedra rústica cortada sem ferramentas – tornar-se-ia cada vez mais poderoso, qual grande monte – de fato, o maior dos montes – até dominar toda a terra e destruir os reinos dos homens (Dn 2.34-35, 44-45; Is 2.1-4). 

II – A CHEGADA DO REINO DE DEUS EM CRISTO A maioria dos judeus esperava que a manifestação do reino de Deus inauguraria uma nova era tanto para eles como para os gentios, na qual Israel seria restaurado como reino e os demais povos seriam subjugados por um Messias guerreiro, político e glorioso. Muitos daqueles que interrogavam a Jesus esperavam o reino de Deus sob esse aspecto material, e mesmo os discípulos alimentaram por muito tempo a esperança de que Ele manifestaria a glória do Seu reino antes do fim (Mt 20.20-21; 24.1- 3; At 1.6-7). O reino de Deus havia realmente chegado, mas não com aparência exterior nem apelando aos sentidos físicos – para contradição das expectativas da maioria – e sim para a fé daqueles que ouviam a boa nova: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15; cf. Lc 17.20-21). Chegara inaugurando uma nova ordem de coisas, não na subversão da ordem política ou mesmo religiosa do seu tempo, mas subvertendo a forma como os homens entendiam sua relação com Deus, incutindo em seus corações a consciência do pecado frente à justiça e santidade divina, e a necessidade de arrependimento e conversão – isto é, o abandono do pecado e a prática da virtude, da obediência – para se entrar, não em um reino terreno, mas na própria vida eterna (Mt 3.1-10; 5.17-20; 6.33; 7.13-14). 

III – A MANIFESTAÇÃO DO REINO DE CRISTO Não obstante seu aspecto espiritual e eterno, bem como presente, o reino de Deus anunciado em Cristo Jesus também pode ser considerado sob o aspecto posterior da sua manifestação após a ressurreição e, depois, na consumação dos séculos. Já consideramos, na lição passada, a importância da ressurreição como solene declaração de Deus acerca do reinado de Cristo sobre as nações e que, tendo sido recebido no alto e se assentado em Seu trono de glória, ali aguardará até que todos os Seus inimigos sejam colocados debaixo de Seus pés. Isto significa que Cristo recebeu todo o poder e direito para reivindicar os reinos e nações da terra, tanto por constituírem herança do Pai como despojo de Sua vitória contra Satanás; e que o evangelho é a boa nova de que o jugo do reino das trevas foi quebrado de sobre os povos (Mt 12.28-29; 28.18-20; cf. 24.14; Ap 12.10-12). Por sua vez, não podemos negar que o reino de Deus ainda se reserva a uma manifestação futura em vista da qual Cristo exorta diversas vezes Seus ouvintes sobre as implicações eternas de suas ações ou atitudes no reino de Deus presente. Assim, embora o convite para entrar no reino seja feito a muitos hoje, e muitos até mesmo o aceitem e se considerem dentro dele, chegará o tempo em que o reino se manifestará na sua plenitude, revelando os corações daqueles que se fizeram indignos de permanecer nele, e então serão lançados fora para sempre (Mt 7.21-23; 8.11-12; 22.1-14; 24.45-51; 25.29-30). Deste modo, o acesso ao reino de Deus no presente proporciona ao homem uma oportunidade de preparação e de fazer-se como que digno do reino a se manifestar na eternidade, na vinda de Jesus e no dia do juizo (Mt 13.24-30, 36-43, 47-50; cf. 2 Tm 4.1-2). 

CONCLUSÃO Tão certo como Cristo é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e Seu domínio é para sempre, assim também nós, se permanecermos com Ele, venceremos este mundo e com Ele reinaremos eternamente em glória.

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16 novembro 2024

007-A Ressurreição de Cristo - Cristologia Lição 07[Pr Afonso Chaves]15nov2024

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LIÇÃO 7 

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO 

TEXTO ÁUREO: “Como também está escrito no Salmo segundo: Meu filho és tu; hoje te gerei. E que o ressuscitaria dos mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Pelo que também em outro Salmo diz: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Atos 13.33-35) 

LEITURA BÍBLICA: 1 CORÍNTIOS 15.1-8 

INTRODUÇÃO Após termos estudado a morte de Cristo Jesus à luz do ensino bíblico, e considerarmos a previsão, as circunstâncias e consequências deste evento, faremos o mesmo em relação à Sua ressurreição. E isto não apenas porque ambos os eventos estão histórica e cronologicamente relacionados, mas porque a ressurreição de Cristo é a prova inconteste da Sua divindade, isto é, de que Ele é o Filho de Deus. E, representando Sua vitória sobre a morte, a ressurreição de Cristo é a garantia de que o Seu sacrifício permanecerá para sempre como uma oferta eficaz e suficiente para assegurar a nossa propiciação diante de Deus e, eventualmente, nossa própria ressurreição. 

I – A PREVISÃO DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO As previsões e prefigurações da ressurreição de Cristo podem ser encontradas em tantas passagens das Escrituras quantas são aquelas que apontam para a Sua morte. Isto porque, sendo a obra de Cristo salvar os homens não apenas dos seus pecados, mas da própria morte que sobre eles reinava, era necessário que tanto Ele morresse para expiar os pecados, como ressuscitasse para aniquilar a morte. Assim, na promessa de que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente podemos apontar a previsão implícita da vitória de Cristo sobre o diabo, tanto ao morrer na cruz, como também ao ressuscitar, pois aí demonstrou que a morte – e, portanto, o diabo – não tinha poder sobre ele (Sl 16.8-10; At 2.24-27, 30-31). Do mesmo modo o profeta Isaías, depois de anunciar os sofrimentos que sobreviriam ao Servo do Senhor, pelos quais derramaria a Sua alma na morte e assim seria cortado da terra dos viventes; acrescenta uma previsão da Sua ressurreição gloriosa, pela qual Ele contemplaria e se alegraria sobre as nações da terra cujos pecadores, perdoados e justificados, ser-lhe-iam entregues qual grande despojo a um rei triunfante em batalha (Is 53.10-12; Sl 2.6-8; cf. At 13.32-34). Consideremos ainda que, sob o aspecto da Sua glorificação como rei das nações, ou rei dos reis, seria através da ressurreição que o Cristo, tendo sido rejeitado pelo mundo e pelo Seu próprio povo, e entregue para ser morto, seria sumamente engrandecido e glorificado, sentando-se à destra de Deus, de onde contemplaria aqueles que O rejeitaram serem completamente destruídos (Sl 118.22-23; At 4.10-12). Já estudamos também que os sacrifícios que se ofereciam segundo a lei prefiguravam a morte de Cristo; agora, podemos completar a análise da representação profética e simbólica do culto levítico apontando como o sacerdócio prefigurava a Sua ressurreição. Ora, a ineficácia do sacerdócio araônico não se devia apenas à natureza e repetição dos sacrifícios de animais, mas também ao fato de os sacerdotes constituídos pela lei serem impedidos de permanecer para sempre por serem também pecadores, sujeitos à morte. Convinha-nos, portanto, além de um sacrifício perfeito e suficiente, um sacerdote que, pela virtude de uma vida incorruptível, permanecesse para sempre diante de Deus intercedendo em nosso favor. Somente Cristo poderia ser um sacerdote dessa ordem, tanto em razão da Sua natureza divina, excelsa, pura e perfeita, como em razão da promessa: “Tu és sacerdote eternamente” – o que só poderia se cumprir se, depois de oferecer Sua vida em sacrifício, Ele ressuscitasse dos mortos (Sl 110.1-10; Hb 7.23-28). 

II – CIRCUNSTÂNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO Assim como a morte de Cristo foi acompanhada por diversos sinais, do mesmo modo Sua ressurreição ocorreu em circunstâncias testemunhadas por centenas de pessoas e que provam, de forma inequívoca, que o mesmo Jesus que havia padecido na cruz e sido sepultado verdadeiramente havia ressuscitado dentre os mortos. Consideremos as evidências da ressurreição testemunhadas no próprio local em que o Senhor havia sido sepultado: ali, os soldados romanos foram os primeiros a testemunhar a intervenção poderosa dos anjos que removeram a pedra da entrada do sepulcro de modo tão inequívoco que, assombrados, voltaram aos líderes dos judeus e relataram o que haviam visto, e só puderam ser calados por meio do suborno. Por sua vez, às mulheres que foram ao sepulcro pela manhã os mesmos anjos testificaram da ressurreição de Jesus, indicando o local, agora vazio, onde jazia o Seu corpo (Mt 28.1-8, 11-15; Lc 24.1-8). A este testemunho acrescenta-se o de Pedro e João que, informados pelas mulheres, correram até o sepulcro e também constataram que estava vazio (Lc 24.12; Jo 20.1-8). Ao que indicam os evangelhos, as mulheres também foram as primeiras a verem o Senhor Jesus ressuscitado e, em particular, Ele se apresentou a Maria Madalena (Mt 28.9-10; Jo 20.11-18); depois, aos discípulos no caminho de Emaús e, em seguida ou talvez um pouco antes, a Pedro; finalmente, apresentou-se também aos onze, cuja incredulidade diante dos relatos anteriores manteve-se mesmo quando O viram com os seus próprios olhos. Assim, foi necessário primeiro demonstrar, com muitas e infalíveis provas, que Jesus havia de fato ressuscitado, para poder então, no período de quarenta dias que se seguiu, tratar das coisas pertencentes ao reino dos céus (Mc 16.14; Lc 24.36-43). Depois disso, Ele ainda apareceu a muitos outros, não apenas dentre os apóstolos, mas dentre a multidão dos primeiros discípulos, seja antes de subir ao céu, seja depois – como no caso de Paulo (At 9.1-5). 

III – CONSEQÜÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO Com a ressurreição, cumpre-se tudo aquilo que as Escrituras haviam predito a respeito de Cristo, no sentido de que aos Seus sofrimentos se seguiria Sua glorificação. A ressurreição era o princípio da Sua entrada na glória celestial, que se completou ao cabo de quarenta dias, quando o Senhor Jesus ascendeu aos céus perante os olhos dos discípulos e, pouco depois, como sinal de que havia assumido Seu lugar à destra do Pai, derramou o Espírito Santo, como havia prometido (Lc 24.44-49; Mc 16.19; At 1.4-8; 2.33-36). Estêvão O viu em pé na Sua glória (At 7.55-56) e todo o olho ainda O verá, quando na mesma glória vier, na consumação dos séculos, para julgar as nações (Mt 25.31, 34; Ap 1.7). A ressurreição de Cristo, portanto, é o fundamento para a pregação do evangelho a todas as nações, pois através dela Deus anunciou a toda a criação que constituiu seu Filho como Rei, entregando-Lhe todo o poder e domínio nos céus e na terra, e que todos devem a Ele se submeter, ou do contrário terão de sofrer a Sua ira, pois certamente todos os Seus inimigos serão colocados debaixo de Seus pés, inclusive a morte (Mt 28.16-20; At 3.19-23; cf. Sl 2.9-10; 1 Co 15.24-26). 

CONCLUSÃO Assim como a ressurreição de Cristo é prova de que Ele não foi vencido pela morte, mas antes a venceu na cruz; do mesmo modo podemos ter a certeza de que a morte também não terá domínio sobre nós, e que do mesmo modo ressuscitaremos, desde que morramos com Ele e como Ele todos os dias, enquanto vivermos esta vida.

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06 novembro 2024

006-A morte de Cristo - Cristologia Lição 06{Pr Afonso Chaves]06nov2024


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LIÇÃO 6 

A MORTE DE CRISTO 

TEXTO ÁUREO: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.28) 

LEITURA BÍBLICA: ISAÍAS 53.1-12 

INTRODUÇÃO Na lição de hoje, veremos como a morte de Cristo, tendo sido planejada por Deus na eternidade, foi anunciada e seu significado ilustrado de antemão nas Escrituras Sagradas. Veremos como o próprio Jesus advertiu Seus discípulos de que era necessário que Ele padecesse e como todas as circunstâncias da Sua morte se cumpriram em conformidade com a vontade de Deus. E, por fim, consideraremos os sinais que acompanharam a morte de Cristo, e como apontavam para as importantes e eternas consequências do seu sacrifício no tratar de Deus com o seu povo. 

I – A PREVISÃO DA MORTE DE CRISTO Encontramos a primeira indicação da morte de Cristo na palavra de Deus declarada logo após a Queda, de que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente – o que, conforme estudamos em lição anterior, significa que o Salvador dos homens se faria carne como eles e, nesta condição, os resgataria do poder do pecado e da morte, assim vencendo Satanás para sempre (Hb 2.14-15). Contudo, esta vitória viria a um preço: a serpente teria sua cabeça esmagada, mas picaria o calcanhar da semente da mulher – o que pode ser considerado insignificante, tendo em vista que, através da morte de Cristo, se manifestaria o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (1 Co 1.18). Mas, por outro lado, denota também que, embora ordenada pelo sábio e eterno conselho de Deus, a morte de Cristo constitui, do ponto de vista moral e histórico, uma injustiça perpetrada contra o justo e santo Filho de Deus, tendo como causa imediata a decisão e obra dos homens ímpios e pecadores em cujas mãos Cristo foi entregue – esses homens, por sua vez, sendo instigados por Satanás (At 2.22-23; 3.14-15; cf. Lc 22.52-53; Jo 8.39-44; 14.30). A esta primeira referência podemos acrescentar que a morte de Cristo também foi prefigurada nos sacrifícios realizados sob a antiga dispensação. De fato, essas ofertas de sangue subiam como cheiro suave diante de Deus porque através delas o ofertante tanto reconhecia que o pecado só podia ser reparado por meio da morte – em outras palavras, expiado com sangue; como também apelava à misericórdia de Deus para que aceitasse uma vítima inocente em seu lugar (Ez 18.4; Lv 17.11; cf. Gn 4.4). Contudo, a repetição desses sacrifícios sob a antiga dispensação era um testemunho da sua ineficácia, bem como da necessidade de um melhor sacrifício, para o qual homem algum poderia prover o cordeiro, senão o próprio Deus (Gn 22.7-8, 13-14; Jo 1.29). Cristo, portanto, ao unir Sua excelência divina à carne humana, cumpriu a vontade de Deus, desde o princípio revelada, antes da fundação do mundo definida, de que Ele fosse a vítima perfeita para que, do Seu sacrifício resultasse a eterna redenção dos homens (Jo 6.51; Hb 9.11-15; 10.1-10; cf. Is 53.4-8; 1 Pe 1.17-21; Ap 13.8). Assim que, plenamente consciente de que havia vindo a este mundo para morrer pelos pecadores, o próprio Jesus sempre expressou Sua expectativa em relação a esta hora e, embora se angustiasse com a sua proximidade, venceu aquilo que temia pela perspectiva de que esta era a vontade do Pai e que, consumada a obra, Ele seria sumamente glorificado (Mt 20.27-28; 26.38-39; cf. Jo 12.23-28; Hb 12.1-3). E, mesmo sabendo que eram incapazes de compreender como o Rei de Israel poderia padecer sob os Seus opositores, o Mestre advertiu Seus discípulos de antemão e com maior freqüência na medida em que chegava a Sua hora, para que, quando tudo isso acontecesse, não perdessem a fé naqu’Ele que era a esperança de Israel (Mt 16.21-23; Lc 18.31-34; 24.13-27, 44-45). 

II – CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE DE CRISTO Dentre as circunstâncias envolvendo a morte de Cristo, queremos chamar a atenção novamente para os autores ou agentes imediatos deste que, do ponto de vista moral ou histórico, foi o maior ato de injustiça cometido pelos homens, mas como isto também aconteceu para que se cumprisse a Escritura. Porque o Espírito havia previsto que os judeus, depois de rejeitarem a palavra de Deus falada pelos profetas, rejeitariam o próprio Messias, ainda que sem causa e em flagrante contradição com a sua esperança (Sl 118.22-23; Is 28.16; cf. Mt 22.42-44; 23.34-39; 27.24-25; Jo 15.18, 25). E, entregando-O aos gentios, estes, por sua vez, tratariam o Messias com ainda maior crueldade, zombando de Suas prerrogativas reais, infligindo-Lhe terríveis e dolorosos castigos e, por fim, a morte ignominiosa de um malfeitor (Mt 20.17-19; Mc 15.15-28; cf. Sl 22.1, 6-8, 12-18). E assim, depois de ser cruelmente castigado, o Senhor Jesus levou o próprio madeiro onde, chegando ao Gólgota, foi crucificado e onde, depois de erguido, foi deixado para padecer uma morte lenta e dolorosa, sob a zombaria dos soldados romanos e o desprezo dos judeus. Longe, porém, de repreender ou desejar a condenação de Seus algozes, Cristo manteve-se calado, resignado com a mesma inocência e simplicidade da ovelha muda perante os seus tosquiadores (cf. 1 Pe 2.22-24). Suas últimas palavras, pelo contrário, expressam Sua plena convicção de que tudo estava transcorrendo conforme as Escrituras, de maneira que, ao entender que todas as coisas haviam se cumprido, nada mais restava senão Ele mesmo entregar a Deus aquilo que ninguém mais poderia Lhe tirar – Sua própria vida (Jo 19.28-30; Lc 23.46; cf. Jo 10.18). E assim, ao decidirem quebrar as pernas dos que haviam sido crucificados a fim de adiantar suas mortes, os romanos se surpreenderam ao constatar que Jesus já se achava morto – o que foi confirmado quando um dos soldados transpassou o Seu lado com uma lança e do ferimento saiu sangue e água (Jo 19.31-37; Mc 15.42-44). 

III – CONSEQUÊNCIAS DA MORTE DE CRISTO A morte de Cristo foi acompanhada de diversos sinais visíveis que causaram grande assombro e pesar na multidão que assistia àquele “espetáculo”, pela percepção de que Jesus havia sido condenado à morte injustamente (Lc 23.47-48; cf. At 3.17). Além de confirmarem a palavra dos profetas, esses sinais também testificavam das consequências espirituais e eternas da morte de Cristo. Senão vejamos: houve sinais tanto nos céus – o sol se escurecendo e a terra permanecendo em trevas da hora sexta até a hora nona; como na terra – um grande tremor fendendo pedras e abrindo sepulcros em Jerusalém; ao mesmo tempo em que, na casa de Deus, o véu que separava o lugar santíssimo rasgou-se de alto a baixo, literalmente expondo e deixando livre o acesso à presença de Deus, ali representada pela arca da aliança e o propiciatório entalhado com os querubins da glória (Mt 27.45-53; Mc 15.33-38; Lc 23.44-45). Considerados no seu conjunto, esses sinais indicam claramente uma mudança extraordinária na ordem das coisas espirituais e no tratar de Deus com o seu povo; uma mudança que já havia sido experimentada quando da instituição do primeiro concerto, quando então Deus se dirigiu a Israel desde o monte Sinai, com grande comoção na terra. Mas, desta vez, toda a ordem da criação (os céus e a terra) foram abalados, pois, através da morte de Cristo, Deus trouxe não apenas Israel, mas todas as nações, até a sua presença, entregando-lhes o reino dos céus e assim enchendo toda a sua casa de glória (Ag 2.6-9; Hb 12.18-29). 

CONCLUSÃO A morte de Cristo sem dúvida foi o acontecimento mais importante de toda a história do universo, para ela convergindo todas as profecias do passado, e dela testificando Deus tanto nos céus como na terra, pois através dela foi determinado o destino eterno dos homens e de toda a criação.

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01 novembro 2024

005-O Ministério terreno de Cristo- Cristologia Lição 05[Pr Afonso Chaves]29out2024

 

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LIÇÃO 5 

O MINISTÉRIO TERRENO DE CRISTO 

TEXTO ÁUREO: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele.” (Atos 10.38) 

LEITURA BÍBLICA: MATEUS 4.12-25 

INTRODUÇÃO Quando se fala no ministério terreno de Cristo, geralmente o que se tem em mente é aquilo que Jesus disse e operou publicamente, no período compreendido entre o Seu batismo e a Sua prisão. É verdade que esse período não inclui o Seu sacrifício em resgate de muitos – isto é, a consumação da obra que devia realizar na carne. Mas é na pregação, no ensino e nos milagres de Jesus que encontraremos o cumprimento de muitas profecias messiânicas e os sinais de que Ele havia sido ungido por Deus para salvar o Seu povo dos seus pecados. 

I – O BATISMO E O INÍCIO DO MINISTÉRIO DE CRISTO Os primeiros sinais de que JESUS é o Cristo podem ser identificados já na Sua concepção miraculosa no ventre da virgem, que tanto foi anunciada pelo anjo a Maria, como depois revelada a José, Isabel e Zacarias. Em seguida, no Seu nascimento, proclamado pelos anjos aos pastores de Belém, sinalizado aos magos do Oriente, e revelado também a Simeão e Ana. Mesmo o perverso rei Herodes chegou ao conhecimento do fato e, pelo temor de perder o seu trono para o Rei dos judeus que havia nascido, ordenou a matança das crianças de Belém – o que levou à fuga do menino Jesus com Seus pais para o Egito, e somente com a morte do déspota pode Ele voltar à terra de Israel. Todos esses sinais, contudo, parecem não ter causado grande impacto sobre os judeus, de maneira que, voltando Jesus para Nazaré e ali vivendo até os dias da Sua manifestação pública a Israel, ninguém O conhecia por Sua relação com aqueles eventos. Sem dúvida, ficaram guardados no coração de Maria para depois serem transmitidos aos evangelistas, assim como qualquer outra indicação que Jesus havia dado, na Sua infância ou juventude, de que Ele era o Cristo (Mt 2.19-23; 13.54-58; cf. Lc 3.39-52). Na verdade, para que pudesse se manifestar a Israel, o Messias precisava ser precedido por um precursor – um arauto que reuniria o povo pela sua pregação, convertendo-o e preparando-o para que, quando Ele se manifestasse, pudesse apontá-lo para todos (Is 40.3-9; Ml 3.1; 4.5-6; Lc 1.16-17, 76-69). Por esta causa João batizava com água, como um sinal de arrependimento e, ao mesmo tempo, de esperança para aqueles que criam na sua mensagem, de que seriam batizados por Cristo com o Espírito Santo. Em outras palavras, muitos judeus foram preparados por João para crer, através dele, que Jesus é o Cristo. E, embora soubesse claramente que ele mesmo não era o Cristo, e não O conhecesse até que o próprio Deus o revelou no momento em que Jesus veio até ele para ser batizado; desde então o Batista foi inequívoco em seu testemunho, direcionando a multidão dos que criam para Cristo (Mt 3.1-3, 11- 12; Jo 1.6-8, 19-27, 29-34; 3.28-30). Ao ser batizado, Jesus demonstrou Sua submissão voluntária à vontade de Deus, pois, ao ser objetado por João – e com razão – de que era Ele quem deveria batizar, e não ser batizado, Cristo respondeu: “Deixa por agora, pois assim nos convém cumprir toda a justiça”. Com estas palavras, Jesus queria dizer que, de fato, não precisava ser batizado (pois não tinha pecados de que se arrepender); mas, ao mesmo tempo, Ele veio ao mundo para “aprender a obediência” – isto é, obedecer a Deus na carne, o que implicava em atender a tudo aquilo que a justiça divina demandava dos homens nascidos sob a Lei (Gl 4.4-5; cf. Lc 7.28-30). E, provando assim o Seu amor pela justiça de Deus na submissão ao batismo, Jesus recebe um testemunho público da parte do Pai, de que era aquele que havia sido ungido (o Cristo) com o Espírito de Deus, mais do que qualquer profeta, sacerdote ou rei do passado, para operar a salvação do Seu povo (Mt 3.13-17; Hb 1.9; Jo 3.31-34; cf. Lc 4.16-21; Is 42.1-4).

II – A PREGAÇÃO E O ENSINO DE CRISTO Como relata o texto da leitura bíblica, desde o início do Seu ministério, Jesus fazia uso constante da palavra para pregar: “Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus”. A mensagem era a mesma anunciada por João, inclusive acompanhada pelo batismo em águas daqueles que cressem; isto porque a boa nova a ser proclamada ao povo era uma só desde os dias do Batista: havia chegado a plenitude dos tempos, o tempo de entrar no reino de Deus, mas ficariam de fora aqueles que não renunciassem ao pecado, a si mesmos – em outras palavras, que não se esforçassem para se apropriar da salvação (Jo 3.22-24; Lc 16.16; 17.20-21, 33). A diferença em relação ao ministério de Cristo não está propriamente no conteúdo da mensagem pregada, mas sim no impacto muito maior que causou nos ouvintes, pois, enquanto João fora apenas uma testemunha do reino dos céus, Cristo era aqu’Ele em quem o reino se fazia presente, graças aos sinais que operava (Jo 5.33-36; 10.41-42). Seja nas sinagogas, nas casas ou ao ar livre, a pequenos e a grandes grupos, à multidão que O acompanhava ou aos que se faziam propriamente Seus discípulos, Cristo também ensinava. A mensagem concisa e objetiva da pregação comportava realidades espirituais profundas que Jesus se comprazia em desvendar àqueles que ouvissem de bom grado, especialmente aos Seus discípulos, aos quais também revelava como tudo aquilo que fazia e dizia era cumprimento das Escrituras (Mt 5.17; 16.21; Lc 24.26- 27). Aos que se mostravam incrédulos também ensinava, mas ocultando-lhes o verdadeiro significado da doutrina através de parábolas (Mt 13.10-16; Jo 8.43). Assim, não apenas por conhecer as sagradas letras e seu significado sem tê-las aprendido formalmente, mas através da autoridade incomparável e da verdade inquestionável da Sua doutrina, em perfeita harmonia com a Lei e os Profetas, Jesus demonstrou ter sido enviado pelo Pai, e causou tanto surpresa e admiração como silenciosa indignação daqueles que eram incapazes de contradizê-l’O (Mt 7.28-29; 22.46; Jo 7.15-17). 

III – OS MILAGRES DE CRISTO Cristo realizou durante o Seu ministério inúmeras obras extraordinárias, sobrenaturais – milagres que somente Deus poderia operar e que testificavam, portanto, que o reino dos céus havia chegado. Destas obras resultavam benefícios tão maravilhosos e de outro modo inalcançáveis por aqueles que eram agraciados que, de fato, através dos milagres, Cristo salvou a muitos. Seja curando os enfermos, libertando os oprimidos do diabo, ressuscitando os mortos, provendo necessidades materiais, livrando de perigos, Jesus provou ser o Cristo, pois aquele que pode salvar o homem do pecado e da morte eterna também se interessa e pode prover o seu bem estar físico ou material (Mt 8.16-17; 9.1-8; Jo 20.30-31; 21.25). Através dos milagres, muitos passaram a crer n’Ele, enquanto outros, mesmo crendo sem terem visto milagres, foram corroborados na fé ao testemunharem o poder de Deus (Mt 8.5-13; 15.21-28). Por outro lado, aqueles que se mantiveram incrédulos mesmo vendo os sinais que Cristo fazia, ou se entregaram a criticar ou injuriar Seus milagres, fizeram-se pecadores irremediáveis, que não escaparão à condenação eterna (Mt 11.20-24; 12.22-32; Jo 15.22-25). 

CONCLUSÃO O ministério de Cristo consistia em pregação, ensino e milagres porque esses três aspectos se complementam perfeitamente, formando um testemunho claro, consistente e poderoso de que Deus verdadeiramente veio até nós para nos salvar. E cabe à igreja continuar o ministério de Cristo nesses aspectos, pois, tendo consumado a obra que o Pai lhe confiara, o Senhor Jesus nos deixou a missão de pregar, ensinar, fazer discípulos e esperar que os sinais sigam àqueles que crerem. 

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