LIÇÃO 9
AS LÂMPADAS E OS PÃES DA PROPOSIÇÃO
TEXTO ÁUREO: “Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o Santuário.” (Hb 9.2).
LEITURA BÍBLICA: LEVÍTICO 24.1-9
INTRODUÇÃO O conteúdo do capítulo 24 de Levítico parece tratar de dois assuntos distintos: a liturgia do culto no tabernáculo envolvendo o candelabro e suas sete lâmpadas, bem como a mesa e os pães da proposição; e o juízo determinado por Deus sobre um homem que havia blasfemado. Em nosso estudo desta porção das Escrituras, vamos nos deter principalmente no primeiro assunto, procurando destacar a importância e o significado dessas importantes peças do santuário naquela dispensação de sombras e figuras.
I – O CANDELABRO E SUAS LÂMPADAS (VV. 1-4) Enquanto o livro de Êxodo apresenta-nos o tabernáculo de um ponto de vista mais estrutural, desde a revelação do seu modelo, passando pela sua construção e finalmente sua edificação ou “montagem” no deserto do Sinai; em Levítico é que encontramos a definição da sua funcionalidade no culto divino. Aprendemos, no estudo da lei das ofertas, das purificações e das solenidades, que o altar de bronze e a pia de bronze eram de uma utilidade constante, tanto para os sacerdotes como para o povo; que o altar de ouro era acessado especialmente no Dia da Expiação – de tal modo que, talvez por isso, o escritor aos Hebreus se refere a esta peça como estando presente no lugar santíssimo, levando em conta mais o seu uso no Dia da Expiação, em preparação para a entrada do sumo sacerdote além do véu, do que a sua posição “ordinária”, por assim dizer, antes do véu. Resta-nos agora considerar o candelabro e a mesa, duas peças cuja funcionalidade e significado têm muito a nos ensinar. O texto começa repetindo a ordem de Deus para que o povo trouxesse azeite puro, para alimentar a luz do candelabro que devia arder continuamente (cf. Ex 25.6; 27.20, 21). Conforme já estudamos em Êxodo, o candelabro consistia de uma única peça de ouro batido com sete lâmpadas (Ex 25.37, 39) e ficava posicionado “ao lado do tabernáculo, para o sul” (Ex 40.24), isto é, à mão esquerda do sacerdote que entrava no lugar santo. O procedimento a ser adotado para o uso desta peça era simples: todos os dias, o sacerdote devia acender as lâmpadas do candelabro ao cair da tarde e cuidar para que permanecessem acesas até a manhã do dia seguinte: “desde a tarde até à manhã” (v. 3; cf. Ex 30.8). E isto é muito significativo, mesmo no seu aspecto ou contexto mais imediato: durante o dia, embora a entrada de luz exterior no santuário fosse vedada pelas grossas camadas de peles e tecidos que cobriam o tabernáculo, a entrada e saída constante dos sacerdotes na realização dos seus serviços provia iluminação, ainda que provisória e precária, para o local de culto; mas, durante a noite, quando nenhum serviço era ministrado, todos estando ausentes e silenciados pelo sono, a luz do candelabro era tanto um testemunho de que Israel não havia abandonado ao Senhor, mas continuavam velando diante da Sua face através desse memorial; como também um sinal de que o santuário não estava em trevas, mas o Senhor ainda estava ali, zelando pelo Seu povo. A simbologia do candelabro como memorial do zelo do povo de Deus para com o Senhor é retomada posteriormente nas Escrituras – e, de modo especialmente notável em Apocalipse (cf. Ap 1.9- 13, 20), onde não um, mas sete castiçais de ouro representam a plenitude das igrejas de Cristo e, numa expressão posterior, os sete espíritos de Deus – isto é, a plenitude do Espírito da graça e da verdade (Ap 4.5), que infunde as igrejas para que, qual lâmpadas acesas, possam, pelo seu testemunho, vigilância e oração, ser luz no mundo e ao mesmo tempo alvo da atenção, memória e cuidado do Senhor (cf. Mt 25.1-13; Lc 12.35). Consideremos ainda que, assim como o sumo sacerdote em relação ao candelabro, aqu’Ele que provê o Espírito – o azeite – para que as igrejas, os cristãos – o candelabro – possa prover luz é Cristo Jesus (cf. Jo 8.12; 12.46; 1 Jo 1.5-7).
II – A MESA E OS PÃES DA PROPOSIÇÃO (VV. 5-9) O texto trata mais acerca dos pães que deveriam ser preparados e dispostos sobre a mesa do que da mesa propriamente – como no caso anterior, onde se fala mais do azeite e da sua disposição nas lâmpadas do candelabro para que permanecessem acesas. Apenas para fins de recordação, a mesa havia sido fabricada de madeira de acácia e banhada em ouro (cf. Ex 25.23-24) e estava posicionada “ao lado do tabernáculo para o norte” (Ex 40.22), em oposição ao candelabro. O Senhor orienta então a que se preparassem, todos os sábados, doze pães a partir da farinha de trigo, os quais seriam dispostos em duas fileiras sobre a mesa e acompanhados de incenso. Ao que se depreende da brevidade do texto, esse incenso era oferecido como oferta queimada em lugar dos pães que, ao serem substituídos por novos pães no sábado, eram comidos pelos sacerdotes. A referência imediata que encontramos nos pães é a provisão de Deus para o sustento da vida – provisão essa que os israelitas aprenderiam ao longo da sua jornada no deserto (cf. Dt 8.3). Mas aqui há algo que relaciona os pães com o próprio Israel, tanto devido à alusão ao número das doze tribos como também ao fato de que eram oferecidos ao Senhor – por isso eram também chamados de pães da proposição (Ex 25.30). Podemos destacar o aspecto de que, como Jesus é o pão de Deus que dá a vida pelo mundo, o povo de Deus – seja Israel no passado ou a Igreja no presente – participa dessa virtude e condição, tendo sido oferecido a Deus, ainda que substitutivamente no sacrifício de nosso Senhor, tornando-se também como uma oferta de alimento puro e consagrada exclusivamente para uso de Deus Em analogia, assim como somos a luz do mundo, somos também pão para o mundo, a quem devemos alimentar com a Palavra que temos recebido (cf. 1 Co 10.17; 2 Co 5.14; Rm 12.1).
III – UM CASO DE BLASFÊMIA (VV. 10-23) A parte final e mais extensa do capítulo trata de um caso particular de blasfêmia sobre o qual Moisés aguardou uma decisão direta do Senhor para resolvê-lo; nessa oportunidade, outros casos específicos de transgressões passíveis de punição também são apresentados e normatizados por Deus. Tratava-se do filho de um casamento mestiço entre uma israelita e um egípcio – de fato, havia grande multidão de pessoas estranhas no meio dos israelitas que inclusive os havia acompanhado na saída do Egito (Ex 12.38) e que mais tarde contribuiriam para levar o povo à murmuração e outras formas de rebelião contra o Senhor (Nm 11.4). O texto não explica que tipo de blasfêmia o jovem proferiu, mas parece ter sido em consequência da discussão que havia tido com o israelita. Princípios claros para considerar tal caso digno de uma dura sentença, Moisés e Israel já tinham – seja pelo mandamento de não tomar o nome do Senhor em vão, seja pela jurisprudência em que o crime de amaldiçoar pai e mãe devia ser punido com a morte (Ex 20.7; 21.17). Contudo, como ainda não havia orientação sobre se este caso deveria ser punido pelas mãos do povo ou se o Deus tomaria a causa em Suas próprias mãos, Moisés não permitiu que os ânimos se exaltassem e, com sabedoria, preferiu aguardar a palavra do único e verdadeiro Juiz. Por fim, Deus expressou a Sua vontade, que se tornaria em estatuto para todos os demais casos semelhantes (v. 16, 23).
CONCLUSÃO A lição de hoje pareceu ser fragmentária em seus assuntos, mas certamente pudemos perceber um fio percorrendo todos os três tópicos: o lugar de destaque e consagração a Deus que a igreja ocupa em Sua presença, simbolizado nas lâmpadas do candelabro e nos pães da proposição, e o Seu zelo em vingar toda e qualquer ofensa que procure diminuir a solenidade dessa consagração ou escandalizar aqueles que procuram viver de acordo com as Suas santas leis.