23 setembro 2020

013-A benignidade de Deus para com o Homem - Cartas Pastorais Lição 13[Pr Afonso Chaves]22set2020

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LIÇÃO 13 

A BENIGNIDADE DE DEUS PARA COM O HOMEM 

TEXTO ÁUREO: “E os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras, nas coisas necessárias, para que não sejam infrutuosos” (Tt 3.14). 

LEITURA BÍBLICA: TITO 3.1-15 

INTRODUÇÃO Chegamos ao último capítulo da Carta de Paulo a Tito e, com esta lição, encerraremos o estudo das Cartas Pastorais. Como se trata do encerramento de uma breve epístola, assuntos diferentes poderiam ser encontrados nestes últimos versos, mas procuraremos nos concentrar na doutrina da benignidade de Deus demonstrada para com o homem através da obra da salvação e na aplicação que o apóstolo faz desta doutrina ao recomendar-nos a prática das boas obras. 

I – RECOMENDAÇÃO À BENIGNIDADE PARA COM TODOS (VV. 1-2) A divisão do texto em capítulos não deve nos impedir de perceber a continuidade da exposição de Paulo que, desde o capítulo 2, vem orientando alguns grupos dentro da igreja quanto a como deveriam ordenar sua conduta de acordo com a pureza da doutrina evangélica. E, após exortar a todos, de um modo geral, à santidade, pois este é o firme fundamento da nossa salvação, o apóstolo orienta Tito a fazer uma segunda admoestação à igreja – desta vez, para que se sujeitassem às autoridades humanas e fossem mansos para com todos os homens. Aqui temos duas coisas diferentes: primeiro, prontidão para obedecer aos superiores em tudo o que fosse bom e justo; segundo, prudência e paciência no trato com os incrédulos em geral. Num tempo em que confessar a Cristo podia significar a hostilidade da população e das autoridades constituídas, o apóstolo lembra aos irmãos que os seus verdadeiros inimigos não eram os homens (cf. Ef 6.12), e que nem tudo o que estes exigissem dos crentes deveria ser considerado essencialmente maligno ou injusto; antes, até mesmo os incrédulos poderiam ser surpreendidos pela prontidão, sinceridade e justiça da conduta cristã (Rm 13.3-4; 1 Pe 2.12-17). Por outro lado, mesmo quando prevalece a ignorância e a injustiça por parte dos homens, e estes resistem à verdade e se negam a enxergar a glória de Cristo no bom trato e testemunho dos Seus discípulos, nós não deveríamos reagir de forma indignada ou com espírito vingativo, infamando – isto é, desqualificando a imagem das pessoas – e sendo contenciosos – levando a nossa convicção de que deveríamos ser tratados de outro modo até o ponto de nos envolvermos em uma disputa carnal e infrutífera que só aumentará os rancores. A recomendação de Paulo aqui também a encontramos em outros dos seus escritos: retribuir o mal com o bem e demonstrar mansidão para com a insensatez dos ímpios (Rm 12.17-21). A razão maior disto ele explanará nos próximos versos. 

II – A BENIGNIDADE DE DEUS PARA CONOSCO (VV. 3-11) Assim como a prática da santificação encontra um argumento irrefutável no princípio mais elementar da doutrina da salvação, não é diferente em relação à benigidade aqui recomendada pelo apóstolo aos crentes. Devemos ser mansos, tolerantes e pacientes para com todos os homens porque “também nós éramos, noutro tempo”, como eles – ou seja, “insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros”. E notemos que isto não somente em nossa relação uns com os outros, mas em relação ao próprio Deus (2 Tm 3.4; Cl 1.21). Em outras palavras, o apóstolo lembra aqui que o princípio da nossa salvação jaz no fato de que, assim como os incrédulos contra os quais muitos de nós poderiam justamente se indignar, todos nós também nos encontrávamos em semelhante condição, digna da justa indignação de Deus e que, se não fosse a disposição do Todo-poderoso em abrir mão do Seu pleno direito de nos tratar conforme a Sua ira – ou antes, de prover um meio para atender às demandas da Sua justiça e assim extinguir a causa desta santa ira – teríamos sido irremediavelmente condenados e destruídos. Então entra em cena, mais uma vez, a manifestação de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, como o sinal mais claro e perfeito da benignidade e amor de Deus para conosco. O apóstolo aqui quer destacar que a nossa salvação foi realizada por um ato divino que só se explica pelo caráter daqu’Ele que o executou, e não por causas exteriores: “não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia”. Ao afirmar que Deus fez isto abundantemente, Paulo quer dizer que Deus mostrou Sua sincera e boa vontade de não nos tratar segundo nossos pecados, provendo-nos tudo aquilo de que precisávamos para que, justificados pela sua graça, fôssemos feitos herdeiros, segundo a esperança da vida eterna (Rm 5.8-11). Notemos ainda, apenas a título de esclarecimento, que o apóstolo aqui se refere à salvação como uma lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, pois ao homem natural é impossível ser outra coisa senão inimigo de Deus e, portanto, filho da ira (Ef 2.1-2); de modo que, para tornar-se amigo e filho de Deus, é necessário que tal natureza seja implantada em seu coração como um princípio de vida espiritual completamente novo, gerado pelo Espírito Santo. Isto engrandece ainda mais a benignidade de Deus para conosco, que demonstrou paciência com criaturas que, por si mesmas, jamais deixariam de se fazer suas inimigas, até que Ele mesmo proveu o único meio de resgatá-las dessa condição. Assim, este é o argumento do apóstolo para que Tito ensine os que creem em Deus a procurarem se aplicar às boas obras. Boas obras aqui é nada menos do que a benignidade explicada nos primeiros versos do capítulo; é o esforço do cristão em imitar o Pai celestial, demonstrando bondade para com todos, até os maus e ingratos (Mt 5.44-48). Mais uma vez notamos que a doutrina não é mero conhecimento que alimenta o intelecto, mas a grande diferença em relação a outras fontes de conhecimento e reflexão é que ela também nutre e desperta o coração daqueles que a ouvem a exercitá-la, por isso Paulo diz: “estas coisas são boas e proveitosas aos homens”, e, ao mesmo tempo, relembra os alertas quanto aos falsos discursos, sobre os quais já comentamos mais de uma vez ao longo deste trimestre: “não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei”. Convém apenas acrescentar a explicação de que, o “homem herege” de que ele fala aqui é aquele que não apenas foi enganado pelo erro das falsas doutrinas, mas que voluntariamente as abraçou de tal modo que, mesmo depois “de uma e outra admoestação”, prefere manter-se no erro. Como estudamos nas epístolas a Timóteo, esse tipo de pessoa lamentavelmente está labutando sob um laço que pode ser forte indício de uma irremediável apostasia da verdade (2 Tm 2.25-26; 2 Ts 2.11-12). 

III – CONSIDERAÇÕES FINAIS (VV. 12-15) A carta se encerra com referências a alguns cooperadores de Paulo e à movimentação desses obreiros pelas regiões onde o evangelho estava sendo pregado. Entre estes, lemos sobre Ártemas ou Tíquico sendo enviados até Creta para substituir Tito na sua missão apostólica. O fato de o apóstolo planejar encontrar-se com Tito em Nicópolis indica que ele ainda estava livre – o que faz esta carta anteceder cronologicamente as duas a Timóteo. Notemos também que Tito não estava sozinho em Creta – havia ali cooperadores de destaque, como Zenas e Apolo (cf. At 18.24-28). 

CONCLUSÃO Ao longo deste trimestre, aprendemos muito sobre o chamado ministerial e suas responsabilidades, mas também sobre como o evangelho é uma obra que envolve a todos os que são chamados para a esperança da vida eterna, seja qual for sua vocação nesta vida. Guardemos conosco o ensino de que a igreja é a casa de Deus e que todos nesta casa serão vasos para honra se forem sinceros e puros no seu compromisso com nosso Senhor Jesus Cristo. 

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17 setembro 2020

012-A Pureza da doutrina de Cristo - Cartas Pastorais Lição 12[Pr Afonso Chaves]15set2020

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 LIÇÃO 12 

A PUREZA DA DOUTRINA DE CRISTO 

TEXTO ÁUREO: “Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.7-8). 

LEITURA BÍBLICA: TITO 2.1-15 

INTRODUÇÃO Prosseguindo neste breve estudo da epístola a Tito, analisaremos algumas orientações e conselhos do apóstolo ao seu discípulo e cooperador no desempenho da sua missão de “por em boa ordem” as coisas que ainda restavam nas igrejas de Creta. E como essa obra consistia na promoção da boa e pura palavra de Deus e na sua aplicação a todos os aspectos da vida em comunidade e individual dos fiéis, Tito precisava saber não apenas como orientar os irmãos, de acordo com suas diferentes necessidades, a se conformarem à pureza da sã doutrina, mas também demonstrar pelo exemplo que essa conformidade é a própria essência da vida cristã. 

I – A DOUTRINA É PARA OS IDOSOS (VV. 1-5) Nossa divisão do texto nos dois primeiros tópicos será mais para fins de acomodação ao formato da lição, pois, ao longo destes dez versículos, o apóstolo orienta sobre como alguns grupos em particular deveriam pautar sua conduta de acordo com a doutrina e, oportunamente, insere exortações dirigidas especialmente a Tito, antes de finalmente englobar todos os fiéis nas considerações dos últimos cinco versos deste capítulo. Com isto notamos, mais uma vez, que a doutrina do evangelho não é matéria de interesse apenas para alguns indivíduos na igreja, como os obreiros – estes devem, sim, reter firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, a fim de poderem instruir a todos. Mas é na sã doutrina, e somente nela, que todos os crentes devem, com anseio, buscar orientação para se conduzirem de tal forma que tanto Deus se agrade dos seus caminhos como eles mesmos possam alcançar a realização plena e verdadeira dos seus próprios interesses (cf. Sl 37.4-5; Pv 3.5-6). Assim, tendo alertado sobre o perigo da falsa santidade dos judaizantes – baseada em abstinências da carne que, na realidade, encobriam o coração malicioso desses falsos mestres e seus seguidores – o apóstolo exorta Tito a falar o que convém à sã doutrina. Somente a doutrina de Cristo promove a verdadeira santidade – aquela que começa no coração, constrangendo o homem no seu mais íntimo a cumprir a vontade de Deus, em quebrantamento e gratidão pelo perdão dos seus pecados graças à misericórdia de Deus manifestada em Cristo Jesus (2 Co 5.14-15; Hb 8.10-12). Ele começa então a descrever qual deve ser o aspecto marcante na conduta que convém aos idosos: confirmando os próprios ditames da natureza, o evangelho destaca que, nessa fase da vida, o homem deve fazer jus às suas cãs vivendo de acordo com a experiência adquirida, especialmente à luz da justiça de Deus (Pv 16.31). Os muitos e longos anos que o Senhor lhe deu nesta terra deveriam ter lhe demonstrado que a pressa e temeridade característica aos mais novos, inseguros quanto ao futuro e que confiam em si mesmos não muda o fato de que “o tempo e a sorte pertencem a todos” (Ec 9.11). Já as mulheres idosas, além da característica comum à idade já destacada, que deveria ser suficiente para frear impulsos ou tentações a falas ociosas e levianas, também têm o dever de ensinar “às mulheres mais novas”, principalmente pelo exemplo, a como se conduzirem de acordo com a vontade de Deus no trato com seus maridos, a fim de alcançarem a felicidade de um relacionamento sólido de amor e respeito mútuo. 

II– A DOUTRINA É PARA JOVENS E SERVOS (VV. 6-10) Aos jovens, o apóstolo recomenda a moderação, como um resumo de tudo o que a sã doutrina recomenda àqueles que nessa idade desejam agradar a Deus em seus caminhos. Nesta oportunidade, ele se volta para Tito e o lembra de que não deveria apenas ensinar estas coisas, mas ser ele mesmo exemplo de boas obras – o que mais uma vez, recordando os assuntos tratados em Timóteo, confirma que o evangelho não é uma ideologia ou um exercício mental sem implicações práticas; mas uma doutrina, que deve conformar todo o nosso ser e influenciar diretamente o nosso comportamento. E também que ouvir e não praticar é a atitude mais insensata e perigosa que poderíamos adotar em relação ao evangelho (Mt 7.26-27). Ainda na linha destas exortações particulares, Paulo agora se dirige aos servos, ou escravos, recomendando a sujeição e lealdade para com os seus senhores. As razões particulares desta orientação também já foram estudadas, mas queremos destacar aqui esta que Paulo acrescenta: “para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador”. O apóstolo mais de uma vez expressa sua preocupação de que qualquer desvio de um comportamento santo e honesto diante de Deus e dos homens não sem razão poderá causar escândalo à doutrina (cf. vv. 5 e 8). 

III – A DOUTRINA É PARA TODOS (VV. 11-15) Enfim, o apóstolo apresenta, na forma de argumento para todo este capítulo, uma explicação resumida, mas abrangente, do papel central da santificação pessoal na obra da salvação. Ele começa se referindo à manifestação de Cristo Jesus neste mundo e à consumação da Sua obra na cruz do Calvário, pela qual a abundante e maravilhosa graça de Deus se tornou conhecida e, pela pregação do evangelho, a salvação foi anunciada a todos os homens (cf. Jo 1.9, 14). Ora, esta salvação está intrinsecamente ligada à santificação porque, conforme o apóstolo expõe, primeiro: ela nos ensina a renúncia à impiedade e às concupiscências mundanas – o verdadeiro arrependimento do pecado, que consiste não apenas em reconhecê-lo como tal, mas em abandoná-lo, e isto não apenas uma vez, mas enquanto estivermos neste mundo (Mt 3.1-10; 26.41); segundo, essa mesma salvação também ensina o aspecto positivo da santificação, que consiste em viver neste presente século sóbria, justa e piamente – cumprir a vontade de Deus, andando em Espírito para não cedermos à vontade da carne (Rm 8.5-13; Gl 5.16-18). Em terceiro lugar, o evangelho nos dá uma esperança, uma bem-aventurada esperança de que o Senhor Jesus há de voltar para buscar um povo pelo qual Ele morreu justamente para santificar para Si, remindo de toda iniquidade e purificando um povo especial, zeloso de boas obras – o que deve despertar em todos os que O esperam o desejo em conformar-se à pureza que convém ao seu Senhor (cf. 1 Jo 3.1-3). Chegando ao final deste capítulo, percebemos que Paulo conclui seu argumento. Tito, como representante do apóstolo em Creta, devia fazer aquilo que ele mesmo faria se pudesse estar ali: pregar o evangelho, o verdadeiro evangelho, que promove a santificação dos ouvintes, e a única fonte de autoridade e legitimidade para o ministério de qualquer obreiro, sem a qual ele não pode orientar, exortar, tampouco repreender, quando necessário, na igreja. 

CONCLUSÃO A essência da doutrina cristã é a santificação, pois ela promove no coração dos pecadores arrependimento e conversão, e fortalece os fiéis com a esperança de um dia se encontrarem com Cristo, em Sua santidade gloriosa no céu, e de com Ele viverem por toda a eternidade, devendo aqui santificar seus corações e suas obras segundo a graça que nos dá diariamente.


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11 setembro 2020

011-Tito e as Igrejas de Creta - Cartas Pastorais Lição 11[Pr Afonso Chaves]08set2020

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LIÇÃO 11 

TITO E AS IGREJAS DE CRETA 

TEXTO ÁUREO: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam” (Tt 1.5). 

LEITURA BÍBLICA: TITO 1.5-16 

INTRODUÇÃO A partir desta lição, iniciaremos o estudo da Epístola de Paulo a Tito. É a terceira das epístolas pastorais e, à semelhança das duas a Timóteo, é particularmente importante pelos conselhos e orientações dirigidas aos obreiros sobre o fiel exercício do ministério e o cuidado com a igreja de Deus. Alguns tópicos podem já ter sido considerados nas epístolas anteriores, mas, por outro lado, aqui encontraremos também reflexões singulares sobre aspectos da doutrina e da prática cristã que fazem essa breve carta merecer o lugar que ocupa no cânon sagrado. 

I – TITO, UM FILHO NA FÉ (VV. 1-4) Assim como Timóteo, Tito era um dos muitos filhos na fé que o apóstolo Paulo havia gerado. Encontramos algumas referências à sua pessoa fora da epístola, mas parece que ele já acompanhava o apóstolo antes da segunda viagem missionária, durante a qual o jovem Timóteo seria notado e admitido ao grupo missionário; de fato, nós o encontramos na companhia de Paulo e Barnabé em uma viagem a Jerusalém, talvez por ocasião do concílio realizado nessa cidade (Gl 2.1-3; At 15). Notamos ainda que, ao contrário de Timóteo, Tito era gentio e o apóstolo não permitiu que fosse circuncidado, a fim de manter firme a verdade do evangelho, de que os gentios são admitidos à herança do povo de Deus juntamente com os judeus exclusivamente pela fé em Cristo Jesus. Paulo tem grande afeto por Tito, tanto por ser seu verdadeiro filho na fé, como também pela sua fiel cooperação na obra de Deus, e em mais de uma ocasião expressa a grande falta que este obreiro fez ao seu ministério (cf. 2 Tm 4.10; 2 Co 2.12-13). Em outras passagens também encontramos testemunho acerca do seu zelo e interesse sincero pela igreja de Deus (2 Co 7.5-6, 13-14; 8.2, 16, 23), assim como do seu cuidado em andar nas mesmas pisadas do apóstolo (2 Co 12.18). O cabeçalho desta epístola contém vários elementos doutrinários importantes, sobre os quais não podemos nos estender, mas que gostariamos de destacar em breves palavras. Notemos como o apóstolo aqui resume o mistério da piedade referindo-se, primeiramente, à soberania divina na salvação: “a fé dos eleitos de Deus”; depois, à natureza transformadora do caráter inerente ao conhecimento do evangelho: “o conhecimento da verdade, que é segundo a piedade”; ao fundamento inabalável da salvação na certeza da vida eterna: “em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos”; e ao desvendamento desse grandioso propósito através da pregação, da qual o próprio Paulo havia sido constituído seu principal arauto: “a seu tempo, manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus”. 

II – O MINISTÉRIO E A ORDENAÇÃO DAS IGREJAS (VV. 5-9) Como o escritor nos diz expressamente, Tito havia sido deixado na ilha de Creta para que pusesse em boa ordem as coisas que ainda restam, em uma missão semelhante à de Timóteo. Parece, contudo, que as igrejas de Creta eram relativamente mais novas que as da Ásia Menor, a ponto de carecerem inclusive de um ministério constituído. Creta é a maior ilha do mar Egeu e, à semelhança de Chipre, grande o suficiente para comportar algumas cidades, como Salamina, Pafos e Fenice (cf. At 13.4-6; 27.12). Contudo, não a encontramos em nenhum itinerário do apóstolo durante suas viagens missionárias, exceto quando, já como um preso, foi encaminhado a Roma – ocasião em que o navio em que navegava passou rapidamente por alguns lugares costeiros da ilha (cf. At 27.12, 13). Não sabemos quando Tito teria sido deixado ali, mas sua missão seria rápida, pois, segundo consta, Paulo encaminharia alguém para substituí-lo a fim de que esse obreiro pudesse ir ter com ele em Nicópolis (Tt 3.12). Pois bem, a preocupação do apóstolo com as igrejas em Creta era que, como igrejas recentemente estabelecidas, essas comunidades precisavam se organizar em torno do evangelho que ele já lhes havia pregado. Tito estava ali para ajudá-las nesse sentido, mas isto só seria possível com o estabelecimento de presbíteros – homens que zelassem pelo ensino e a aplicação da doutrina evangélica na comunidade (cf. 2 Tm 2.2). Com efeito, nenhuma igreja jamais poderá subsistir sem um ministério sinceramente comprometido em servir às necessidades espirituais dos fiéis (Ef 4.11-14). Por esta razão, dentre os requisitos ou critérios aqui alistados para a admissão ao ministério pastoral, destacamos a firmeza em reter a palavra de Deus, pois assim o obreiro poderá admoestar com a sã doutrina e convencer os contradizentes – ou seja, lidar com os dois tipos espirituais básicos de almas que fazem parte da comunidade, e com suas respectivas necessidades. 

III – LIDANDO COM OS DESORDENADOS NAS IGREJAS (VV. 10-16) O fato de que o ministro do evangelho tem de lidar não apenas com crentes sinceros e fiéis, mas também com os insinceros e desordenados enseja uma explicação mais extensa de Paulo sobre a importância de se estar preparado para usar a sã doutrina nestes casos. Assim como na Ásia Menor, em Creta também havia falsos mestres, oriundos do judaísmo, que o apóstolo qualifica como “faladores, vãos e enganadores”, e que poderiam causar muito dano à igreja se não fossem confrontados, desmascarados em suas intenções e calados. Aqui vale o mesmo alerta feito a Timóteo, para que exortasse os fiéis a não darem ouvidos às fábulas judaicas, que só alimentavam contendas e a glória desses falsos mestres entre o rebanho de Deus. Nesse ponto, o apóstolo considera o argumento do que poderia ser um dos mandamentos dos mestres judaizantes: a proibição de ingerir certos alimentos sob a alegação de que, de acordo com a lei de Moisés, eram impuros. Ele já havia lidado com o mesmo problema na primeira carta a Timóteo, desqualificando esse tipo de prática como doutrina de demônios, quando imposta sobre os cristãos a pretexto de maior demonstração de santidade ou piedade. Ou seja, o propósito da lei mosaica não era impor uma abstinência de alimentos que, em si mesmos, não eram impuros, porquanto Deus criou todas as coisas para benefício dos fiéis (1 Tm 4.1-5). O evangelho deveria nos trazer maior consciência do propósito da criação e nos levar à compreensão de que a verdadeira pureza é interior, pela fé, e não exterior; e que aquele que é puro interiormente fará todas as coisas exteriores com pureza e santificação, sendo aprovado por Deus (Mt 15.10-11, 16-20; Rm 14.14); ao passo que aquele que está impuro por uma consciência contaminada jamais alcançará contentamento em realizar qualquer coisa, nem as mais isentas e legalmente consideradas “puras”, sendo condenado pela dúvida, ou pela malícia do coração, ou ainda pelo entendimento incorreto (Rm 14.22, 23). 

CONCLUSÃO Ainda aprenderemos várias coisas novas sobre a importância do ministério para o desenvolvimento da igreja e a grande responsabilidade que pesa sobre os ombros de cada obreiro. E que a repetição nesta breve carta daquilo que já sabemos desperte em nós o desejo de não apenas conhecer tais coisas, mas viver de acordo com elas.

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03 setembro 2020

010-Chegando ao fim do ministério - Cartas Pastorais Lição 10[Pr Afonso Chaves]01set2020

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LIÇÃO 10 

CHEGANDO AO FIM DO MINISTÉRIO 

TEXTO ÁUREO: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). 

LEITURA BÍBLICA: 2 TIMÓTEO 4.1-8 

INTRODUÇÃO Na lição de hoje meditaremos sobre as últimas palavras de Paulo a Timóteo. Estas também são, cronologicamente, as suas últimas palavras em relação a todas as demais epístolas. Veremos que, apesar de se encontrar em uma situação bastante adversa, o apóstolo nunca perdeu o senso de estar cumprindo a vontade do Senhor e agora, mais do que nunca, chegava ao fim do seu longo e abundante trabalho com a certeza da aprovação divina. Mas, antes de partir, ainda expressa o seu desejo de que aqueles que ficariam em seu lugar seguissem esse mesmo caminho com igual fidelidade e esperança de aprovação. 

I – CUMPRINDO O MINISTÉRIO (VV. 1-5) Timóteo havia sido grandemente favorecido por Deus ao longo da sua vida, com a instrução que havia recebido ainda na infância acerca das Escrituras Sagradas e, na sua mocidade, com a fé que há em Cristo Jesus. Ao longo dos últimos anos, havia demonstrado seu compromisso sincero com o Senhor Jesus, dispondo-se a imitar o apóstolo Paulo tanto na “doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência” como também nas “perseguições e aflições”. Em outras palavras, havia manifestado os sinais de uma genuína eleição divina tanto para a vida eterna como para o ministério da palavra. Por isso Paulo o faz jurar “diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino”, como um pai que, antes de partir, tem uma última e mais importante vontade que deseja que seu filho a realize – com a diferença de que esta última vontade visa o bem exclusivo do próprio filho e que não é ao apóstolo, mas ao próprio Deus que Timóteo haverá prestar contas um dia. Como já temos considerado mais de uma vez ao longo do estudo da primeira e segunda epístola, a obra principal de um ministro do evangelho – seja ele um pastor, evangelista, doutor, profeta – é a administração da palavra de Deus. Pregar, instar, redarguir, repreender e exortar, como aqui diz o apóstolo, com longanimidade – ou seja, paciência e persistência para com todos – e doutrina, isto é, a genuína revelação divina, tal como a temos nas Escrituras, no Evangelho. Outras atividades, mesmo que auxiliares ou complementares à piedade do obreiro, não devem substituir a ministração da palavra de Deus (cf. At 6.2, 4). Retomando as considerações anteriormente feitas sobre os tempos difíceis que se aproximavam, Paulo reforça a necessidade de o obreiro perseverar na palavra porque somente desta maneira a multiplicação das heresias e dos falsos mestres que as propagariam poderia ser contida em seu esforço de desviar a muitos da verdade. O evangelho é uma mensagem espiritual, de renúncia ao pecado e submissão ao reino de Deus, mas, como esse apelo soa pouco agradável ao homem natural, muitos, desejando conciliar uma aparência de piedade com a liberdade para realizar os seus próprios desejos, debandariam para longe daqueles que pregam a verdade, em busca de falsos mestres que pregassem aquilo que essas pessoas gostariam de ouvir. De fato, podemos dizer que o próprio Deus permitiria que a atuação diabólica aumentaria nesse sentido, como um castigo pela rejeição da verdade (2 Ts 2.11-12). 

II – A PERSPECTIVA DA APROVAÇÃO DIVINA (VV. 6-8) Em última análise, a obra do ministério é simples e fácil de descrever – como o próprio Paulo o fez nas poucas palavras acima – mas, ao mesmo tempo, difícil de cumprir. O compromisso que o Senhor Jesus requer dos Seus obreiros implica em aflições de todo tipo, como já estudamos também em outras oportunidades. Não é por acaso que o apóstolo insiste tanto com seu filho na fé e acaba deixando para as gerações seguintes estas escrituras tão cheias de exortações. Mas a força das palavras que ora consideramos é ainda maior que a de qualquer exortação, pois manifestam a perspectiva de aprovação alcançada por um obreiro fiel antes mesmo de encerrar sua carreira neste mundo. O tempo e esforço aplicados na obra do ministério não são de modo algum desperdiçados, mas antes definem um alvo que, quanto mais se aproxima do nosso alcance, maior certeza e satisfação temos de que nosso trabalho não foi em vão (cf. Fp 3.12-16). A coroa da justiça representa tanto o prêmio imerecido por nós, mas plenamente digno da fé preciosa que pela graça nos foi confiada (cf. Ef 2.8; 1 Pe 1.3-7); como também a recompensa de todo o trabalho envidado no servir ao Senhor Jesus, não de acordo com o que cada um poderia considerar ser merecedor, mas de acordo com a justa paga prometida a todos os que foram chamados a essa obra – seja Paulo, seja Timóteo, sejam todas as gerações que se seguiriam de fiéis ministros do evangelho, cujos nomes jamais conheceremos neste mundo (cf. Mt 20.1-16). 

III – CONSIDERAÇÕES FINAIS (VV. 9-22) Passando então a considerações mais particulares e pessoais, o apóstolo insiste com Timóteo para que este venha até Roma, onde se encontrava preso, o mais depressa possível. Sem dúvida aqui há um desejo de ver novamente seu amado filho na fé (2 Tm 1.4), mas, mais do que isso, também revela a disposição de Paulo em continuar trabalhando na obra do ministério, mesmo com a perspectiva de já estar próximo ao fim e de ter agido até aqui sob a aprovação divina. Ele ainda precisa de cooperadores – não só de Timóteo, mas também de Marcos, “porque me é muito util para o ministério” (v. 11). Somente Lucas estava com ele, enquanto os demais haviam partido para outras regiões, seja por tê-lo abandonado – como Demas – seja em missões apostólicas – como Tíquico – ou outras por razões que desconhecemos. Ele também precisa de materiais escritos para continuar o seu trabalho – livros, “principalmente os pergaminhos”, que poderiam ser as Escrituras do “Antigo Testamento”, até então redigidas em longos rolos de peles de animais. Notemos também que as adversidades que ele menciona aqui não têm o intuito de expressar ressentimento ou pesar, mas apenas para despertar em Timóteo a devida consideração sobre circunstâncias que qualquer obreiro de Cristo poderia enfrentar, inclusive nos seus últimos momentos, depois de uma vida de trabalho pela causa do evangelho – quando muitos tendem a esperar reconhecimento e apoio, mas podem acabar sendo ignorados e desamparados. Paulo analisa essas situações sob a luz da providência e graça divinas que lhe bastavam, como o próprio Senhor Jesus já lhe havia recomendado. Um certo Alexandre, o latoeiro, havia lhe causado muitos males; pois que o Senhor lhe pague segundo as suas obras, e que os fiéis tenham cuidado com ele. Ninguém o assistiu na sua primeira defesa; pois que isto lhes não seja imputado e, além disso, o Senhor o assistiu e o fortaleceu. Ademais, mesmo não vislumbrando prolongar seus dias depois que comparecesse segunda vez diante do imperador romano, o apóstolo tem plena certeza de que a vontade de Deus se cumprirá, e que esta vontade sempre visa o bem dos Seus escolhidos. A perspectiva de livramento de toda má obra, então, diz respeito não à pena capital a que Paulo, segundo consta, foi submetido após esse julgamento; mas às tentações que tal circunstância poderia ter representado para a sua fé. Ele enfrentaria a terrível sentença dos homens com a segurança de que estava sendo, através dela, guardado por Deus para o Seu reino celestial. 

CONCLUSÃO Continuemos a trabalhar para o Senhor sem desanimar nem desacreditar das Suas promessas. Ele é justo e fiel, e jamais deixaria de recompensar cada um segundo as suas obras. E, além disso, é certo que Ele recompensará abundantemente mais do que qualquer esforço e aflição a que nos submetermos nesta vida por amor à Sua obra poderiam merecer.  

PARA USO DO PROFESSOR

AUTORIA
Comissão da Escola Bíblica Dominical das Assembleias de Deus Ministério Guaratinguetá-SP.

APOIO
Rede Grata Nova de Evangelização
Rádio Net Grata Nova
Fundada em 29 março de 2009 por Moisés Moreira



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