LIÇÃO 1
SABEDORIA DE DEUS PARA A VIDA
TEXTO ÁUREO: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada.” (Tg 1.5).
LEITURA BÍBLICA: TIAGO 1.1-12
INTRODUÇÃO Neste trimestre estudaremos a epístola de Tiago. Muito diferente das outras epístolas do Novo Testamento, a carta de Tiago trata da vida cristã no seu aspecto mais prático do que doutrinário, embora sem separar um do outro. O escritor se preocupa com a boa conduta, com um viver genuíno e em coerência com a sã doutrina do evangelho, com a aquisição da verdadeira sabedoria para a vida, a sabedoria de Deus. Assim, encontraremos aqui muitas orientações que nos farão lembrar as palavras de nosso Senhor Jesus no Sermão do Monte, ou as dos sábios registradas em Provérbios e Eclesiastes.
I – TIAGO E OS FIÉIS EM PROVAÇÃO (VV. 1-4) Há pouca informação na epístola para determinarmos maiores detalhes sobre quem foi o seu autor e os seus destinatários originais. No Novo Testamento encontramos pelo menos três discípulos de Jesus chamados de Tiago: dois pertenciam ao grupo dos doze apóstolos e o outro era irmão do Senhor (Mt 10.2-3; Gl 1.19). Quanto a Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João, foi morto a mando de Herodes num momento relativamente recente da pregação do evangelho, ao passo que a epístola foi escrita quando os fiéis já estavam “dispersos” (At 8.1; 12.1-2). Embora não possamos afirmar nada de certo a respeito do filho de Alfeu, o perfil do autor se encaixa mais com o de Tiago, irmão de Jesus, pois sabemos que este foi um líder de grande sabedoria e reputação na igreja, como se pode notar em seu discurso durante o concílio de Jerusalém e na orientação dada a Paulo quando da última visita deste àquela cidade (At 15.13-21; 21.18-25; cf. Gl 2.9). Tiago escreve às “doze tribos que andam dispersas” – que é uma referência à dispersão dos hebreus após a destruição das dez tribos do norte e do cativeiro das duas tribos do sul; e, mais recentemente, à dispersão dos judeus que haviam crido em Jesus após a morte de Estêvão. A dispersão representava para o judeu a triste condição sob a qual ele labutava como estrangeiro em terras estranhas, longe da sua pátria, longe da casa de Deus. Mas, uma vez que a igreja é o “Israel de Deus” (Gl 6.16), a designação é usada em alusão à sua peregrinação neste mundo, pois os crentes, quer sejam judeus ou gentios, estão longe da sua verdadeira pátria – a celestial – e sujeitos ao sofrimento, perseguição e dificuldades enquanto trilham nas terras estranhas neste mundo (cf. 1 Pe 1.1-2; 2.11). Portanto, é a um povo de Deus aflito e confrontado pelas adversidades desta vida que Tiago dirige suas palavras. Lembrando os ensinos de Cristo Jesus, o sábio servo de Deus aconselha: “Tende grande alegria quando várias tentações vos forem enviadas”. A palavra “tentação” aqui tem o sentido de provação, teste, como esclarece o verso seguinte: “a prova da vossa fé”. Enquanto o homem natural procura fugir de qualquer situação que lhe traga o senso de sua impotência e fragilidade, daquilo que o amor à própria vida considera ruim ou prejudicial, buscando a felicidade nos poucos, frágeis e temporários sucessos que alcança nesse sentido; a sabedoria divina nos ensina a chamar tais coisas de “provações” e vê-las como necessárias para a aquisição da verdadeira felicidade (cf. Mt 5.10-12). O homem natural tende a murmurar das aflições que não consegue evitar, ao passo que o fiel, mantendo tenazmente sua fé na bondade de Deus, extrai das dificuldades o aperfeiçoamento espiritual, que aqui Tiago resume na palavra paciência, e que redundam na aprovação da fé (compare com Rm 5.3-5; 8.24-28).
II – A SABEDORIA DE DEUS (VV. 5-8) O homem natural não é capaz de compreender as coisas sob a ótica da sabedoria divina (cf. Mt 16.23; 1 Co 2.14-15); mas, muitas vezes, essa compreensão também escapa aos crentes, se não completamente, ao menos na medida necessária para lidar com circunstâncias que pareçam exceder os limites da sua disposição para resistir. Ao que Tiago responde lembrando a liberalidade e boa vontade de Deus em suprir essa falta a todos os que a pedirem – afinal, a sabedoria divina nada tem a ver com conhecimento intelectual, nem com experiência de vida, nem pode ser comprada com bens materiais, pois o seu valor é inestimável e ela só pode ser achada por aqueles que temem a Deus e desejam viver de acordo com os Seus mandamentos e assim experimentar a única felicidade permanente possível nesta vida (cf. Pv 1.7, 2.6-7, 3.13-18; 8.34-35). É interessante notar que muitos estão prontos a crer piamente e “determinar” o fim de uma dada adversidade, desprezando a oportunidade de crescer espiritualmente; e, por isso mesmo, têm dificuldade em valorizar e buscar com fé a sabedoria divina, tão preciosa para julgar tais situações, para perseverar, para se alegrar na esperança da aprovação, para discernir o escape oportuno vindo de Deus. Por isso somente aquele que pede sabedoria com fé a receberá – somente aquele que é sincero e não duvida da bondade divina, que ama verdadeiramente o Senhor e não se entrega ao “desânimo” e à desesperança ante a incerteza ou aparente gravidade da sua aflição (cf. Hb 11.6; 1 Co 13.4-7).
III – A VERDADEIRA GLÓRIA DO FIEL (VV. 9-12) As palavras deste verso parecem refletir algo das provações que sobrevinham aos crentes da dispersão; muitos deles deviam padecer pobreza ou até miséria, agravada pelas injustiças, abusos e escárnios dos ricos (cf. Tg 2.6). Mas, como o sábio servo do Senhor havia exortado, que o fiel, pobre quanto às coisas deste mundo, julgue sua condição à luz da sabedoria do Senhor e se preocupe em abastecer seu coração com as riquezas do Seu conselho. Se entender que essa e outras condições aflitivas são para o seu aprimoramento espiritual e que a prova da sua fé terminará com o glorioso coroamento para a vida eterna, então sua condição não é de abatimento, mas de exaltação, sobre o que ele deveria se gloriar no Senhor (cf. 2 Co 4.16-18; 1 Pe 4.12-14). A sorte daquele que é rico quanto aos bens desta vida, mas não para com Deus, é exposta aqui mais como um alerta aos fieis do que para satisfazer qualquer senso de vingança ou desejo de que os impios sejam decepcionados pelo caminho que escolheram. A palavra é dirigida aos fieis para alertá-los de que não devem cobiçar o caminho do rico, cumulando-se de tesouros para evitar toda adversidade que possa lhes sobrevir. O apóstolo cita a comparação feita por Deus em Isaías para ilustrar que a esperança e os esforços do rico são tão inúteis como a flor de uma erva sob o sol: toda a pompa, poder e beleza facilmente se esvaecerão juntamente com aqueles que confiam nessas coisas (cf. Mt 6.19-24; Lc 6.24-25; 12.15-21; 1 Tm 6.17).
CONCLUSÃO Nosso Senhor Jesus já nos preveniu, e volta e meia a experiência cotidiana nos lembra que neste mundo teremos aflições. Se não quisermos ser insensatos nem agir como crianças na fé que rejeitam a correção do Pai, busquemos a sabedoria divina e aprendamos a nos alegrar na esperança de coisas verdadeiras e eternas, que jamais serão tiradas de nós por nada nem ninguém nesta vida.
PARA USO DO PROFESSOR