LIÇÃO 1
A VAIDADE DA VIDA TERRENA
TEXTO ÁUREO: “Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2)
LEITURA BÍBLICA: ECLESIASTES 1.1-11
INTRODUÇÃO Dentre os livros sapienciais, também chamados de poéticos, Eclesiastes é o que mais se assemelha a um sermão, uma prédica cheia de reflexões sobre a transitoriedade de tudo aquilo que se faz “debaixo do sol”, exortações a um viver voltado para Deus, que está acima de toda a vaidade da vida terrena, e aplicações práticas sobre diversos aspectos de um viver de acordo com essas considerações. Portanto, dedicaremos o presente trimestre ao estudo deste livro rico em sabedoria divina e preciosos conselhos para nossa vida.
I – INTRODUÇÃO A ECLESIASTES (VV. 1-2) A palavra eclesiastes significa “pregador”, e o livro recebe este nome em razão de se tratar de um registro das “palavras do pregador” (v. 1), que, segundo ele mesmo se identifica, era também “filho de Davi” e “rei em Jerusalém” (cf. v. 12). Não resta dúvida de que se trata de Salomão, pois este é o rei de Israel que se tornou famoso pela sabedoria que Deus lhe havia concedido (cf. 1 Rs 4.29-34). Ao se apresentar como pregador e instrutor do povo de Israel, Salomão lembra o propósito mesmo pelo qual havia pedido a Deus sabedoria ao invés de riquezas: “A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo?” (1 Rs 3.9; cf. Ec 12.9-10). Assim como Provérbios, este livro é considerado sapiencial, porque nele encontramos a sabedoria divina expressa em orientações, conselhos e exortações a um viver de acordo com a retidão e a verdade – em suma, a um viver no temor de Deus (Ec 12.13-14; Pv 1.7). Mas, ao contrário de Provérbios e Cantares, ou mesmo dos Salmos, no livro do pregador a linguagem é mais direta e argumentativa, apresentando-se como um sermão, com começo, desenvolvimento da idéia principal e conclusão com um apelo final aos seus ouvintes e leitores. O tema de Eclesiastes se resume na expressão: “vaidade de vaidades; é tudo vaidade”. A palavra vaidade no contexto do livro significa “o que é fútil, vão, inútil”, e a expressão “vaidade de vaidades” tem o sentido superlativo de “absolutamente fútil, vão, inútil”. Assim, o pregador encabeça o seu discurso afirmando que a vida do homem natural – a vida “debaixo do sol” – não passa de uma tremenda futilidade. Desde as atividades mais ordinárias e cotidianas até os empreendimentos e propósitos mais ousados formulados em seu coração, tudo acaba levando a nada. A sabedoria de tal reflexão se mostrará no desenvolvimento do discurso, onde Salomão apresentará todos os caminhos possíveis para o homem que tenta viver sem se lembrar do seu Criador, provando que em cada um deles a vida acaba se tornando uma coisa vã e nula. Mas, apesar disso, o mesmo sábio nos aponta um caminho melhor, que não apenas dá sentido a esta vida, revelando a razão de ser mesmo das coisas transitórias; mas também nos leva para além do véu desta existência terrena. E este caminho é o do temor a Deus, o qual dispõe da nossa sorte nesta vida e recompensará a cada um segundo suas obras na eternidade (Ec 12.1, 13-14).
II – A VAIDADE DA AÇÃO HUMANA (VV. 3-11) A fim de provar o seu argumento inicial, de que tudo é vaidade, quando considerado sob a ótica daquele que apenas vê as coisas tais como se apresentam debaixo do sol, o pregador começa ressaltando a brevidade da vida humana, brevidade esta que frustra qualquer tentativa de planejar a longo prazo. O homem alcança tudo o que deseja através de muito trabalho e aflição, no suor do seu rosto, apenas para ver suas ações anuladas pela morte, e enfim ser privado de desfrutar de qualquer efeito duradouro do seu trabalho, sem esperança de se recuperar (cf. Jó 1.21; 14.7-12, 14). Esta condição se mostra ainda mais desesperadora frente à ordem natural deste mundo, pois, enquanto aquele que foi criado para se beneficiar e dominar a terra passa como um vento ou o orvalho da madrugada, a própria terra permanece a mesma, inalterada, geração após geração dos filhos dos homens (cf. Sl 90.5-6). Segue-se então a consideração de que, olhando para esta natureza que permanece para sempre de um ponto de vista natural – isto é, sem uma enlevação do pensamento àqu’Ele que criou os céus e a terra e tudo o que neles há – tudo parece tão despropositado como a vida humana, pois não mostra qualquer progresso nem mudança. O sol nasce e se põe, os rios deságuam continuamente, e assim todas as coisas permanecem as mesmas, e aquilo que deveria ser um maravilhoso testemunho da glória do Criador, sem Ele, acaba parecendo algo enfadonho de se contemplar. Sem dúvida, esta é uma clara acusação contra a inutilidade e loucura do ateísmo, tanto antigo como moderno (cf. Sl 14.1). A vida debaixo do sol se torna assim, tanto sob o aspecto da ação humana como de tudo o que sucede na terra, um ciclo sem fim onde tudo se repete, e coisa alguma parece romper essa ordem. Não há um propósito aparente na existência terrena se considerada por si mesma, e nenhum progresso pode ser alcançado sem a consideração por algo ou Alguém que está acima e além deste mundo. Assim, não existe nada de essencialmente novo, as inovações de cada geração podendo ser explicadas pelos mesmos desejos, pelas mesmas inclinações e pelos mesmos propósitos, nunca alcançados com plena satisfação, pelos homens.
III – A VAIDADE DA SABEDORIA HUMANA (VV. 12-18) O escritor inspirado reforça seu argumento apresentando o seu próprio exemplo. E, no seu caso particular, trata-se de um homem que não teve apenas as aspirações do homem comum. Salomão desejou de todo o seu coração o conhecimento e a instrução mais do que qualquer outra coisa, e, graças às regalias de sua posição como rei, pode se aplicar integralmente a esta busca: “Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém” (cf. v. 16). Contudo, mesmo assim, ele se deparou com a frustração que sobrevém a todos os homens em seus duros e curtos dias de trabalho na terra, pois a busca pelo conhecimento e por entender todas as coisas por si mesmas também é um empreendimento limitado pela morte, e pela infinitude de possibilidades e explicações possíveis para tudo o que sucede debaixo do sol (cf. Ec 12.12). Por outro lado, esta é a vontade de Deus, que a busca pelo conhecimento de tudo o que sucede debaixo do sol fosse uma tarefa desesperadora e impossível de concluir (v. 13), pois a razão final das coisas só pode ser encontrada no Criador, e não nelas mesmas. Notemos que o pregador expressa ter esquadrinhado todas as situações possíveis da vida humana, inclusive a loucura e os desvarios – para não dizer que ele mesmo os experimentou por um tempo (cf. 1 Rs 11.1-6), para então poder dizer que, de fato, não há caminho satisfatório para o homem que deseja simplesmente viver debaixo do sol, indiferente ao seu Criador, mas quanto mais ele descobre e cogita sobre possibilidades, maiores são suas ansiedades e o seu desespero: “E vim a saber que também isso era aflição de espírito” (v. 17).
CONCLUSÃO Eclesiastes não é um tratado de ceticismo ou a reflexão de um homem distante de Deus; pelo contrário, é uma firme argumentação contra toda a atitude de indiferença para com o Criador que os homens inutilmente tentam alimentar em sua existência neste mundo, mostrando que no fim descobrirão a loucura de resistir àqu’Ele que nos dá todas as coisas como dons da Sua bondade para conosco e que somente Ele pode nos dar verdadeiro propósito para esta vida e felicidade por toda a eternidade.
PARA USO DO PROFESSOR