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LIÇÃO 5
A FÉ SEM OBRAS É MORTA
TEXTO ÁUREO: “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tg 2.26).
LEITURA BÍBLICA: TIAGO 2.14-26
INTRODUÇÃO A passagem que será objeto da nossa presente lição é uma das mais conhecidas de Tiago, e está entre as mais discutidas e distorcidas das Escrituras. Mas veremos que não há razão para desentendimentos e o escritor é muito claro na forma como trata da fé nos termos que o faz aqui. Seu propósito não é tanto ensinar alguma verdade que os crentes já não conhecessem a respeito da fé, mas é argumentar com aqueles que, negligenciando os aspectos mais elementares da prática implícita a essa fé, viviam uma contradição intolerável e que devia ser desmascarada para o seu próprio bem.
I – O ERRO DA FÉ SEM OBRAS (VV. 14-17) Levando em consideração a abordagem estritamente prática do autor sobre os assuntos tratados ao longo desta epístola, sem dúvida ele não poderia ter agido de forma diferente ao falar sobre a fé. Se considerarmos também o contexto estudado nas lições anteriores, podemos dizer que aqui Tiago está propondo a mesma exortação sob um aspecto diferente. Assim como muitos se jactavam de uma piedade e religião vazia de santidade; e como muitos se jactavam se serem cumpridores da lei divina, mas se esqueciam de que o descumprimento de um só mandamento os tornava violadores de todos os demais; muitos na igreja se gloriavam de terem fé, mas uma fé que, por consistir apenas em palavras – e em nada além de palavras – não podia ser louvada pelo apóstolo, mas antes devia ser desmascarada como mais um artifício inútil da hipocrisia e sutileza humana em evitar os compromissos divinos. Entenderemos que Tiago não está contradizendo o apóstolo Paulo (como muitos críticos o querem) se notarmos que ele não questiona a fé como tal, mas um certo tipo de fé, a saber, aquela que consistia apenas numa confissão exterior, desprovida de obras – uma confissão que, nesse caso, não tem mais valor do que o fruto dos lábios do hipócrita (Mt 15.7-8). Por mais coerente que seja com a sã doutrina, qualquer palavra proferida em nome de Cristo Jesus com o intento apenas de satisfação intelectual ou emocional, sem implicar na obediência total implícita ao senhorio do Seu Santo Nome, é de uma insensatez e inutilidade tal como ilustrada na comparação: “E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?” Certamente, a confissão faz parte da verdadeira fé – tanto a admissão interior do coração como aquela expressa por palavras (cf. Rm 10.8-10), e inclusive antecede às próprias obras (cf. Hb 11.1-2, 6), sendo estas consequentes daquela (cf. Ef 2.8-10). Mas, sem estas, como ele conclui provisoriamente, a fé é morta – isto é, não é verdadeira fé, ou é uma fé que não existe – porque não existe fé sem obras, como ele provará nos versos seguintes.
II – A FÉ É INSEPARÁVEL DAS OBRAS (VV. 18-19) Ainda argumentando com aqueles crentes que diziam ter uma espécie de fé dissociada de obras, e que se gloriavam nisto, Tiago desfaz o auto engano deles demonstrando que esse tipo de fé simplesmente não pode existir – não é a fé evangélica, aquela fé que sabemos ser viva justamente porque é eficaz, produtiva e evidenciadora do reino de Deus e da sua virtude (cf. Mt 9.22; 11.23; 16.17-18). Para que eles pudessem entender o absurdo dessa suposta fé, o escritor propõe um “teste” na forma de um pequeno diálogo, onde se pode entender que um desses crentes que dizia ter apenas a fé é, por assim dizer, “desafiado” por outro que, por sua vez, tinha as obras: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. O argumento é que, sem obras, você não pode provar que tem a fé verdadeira, aquela fé que, como disse Tiago, pode salvar. Se a fé, em si mesma, é evidência e prova suficiente do invisível e do espiritual, por outro lado, sem obras, não é possível provar a própria fé; antes, a ausência de obras evidencia a ausência de fé. Por outro lado, o escritor não está desprezando a relação entre fé e intelecto, nem uma expressão “formal” da fé – afinal, a fé vem pelo ouvir, e a compreensão racional de verdades definidas ou apresentadas de maneira lógica e ordenada é o instrumento material necessário para que o dom de Deus possa nascer no coração dos homens (Rm 10.14-17). Mas não há nada do que se gloriar aqui; essa “fé confessional” não é privilégio dos salvos; muitos a tem em diferentes medidas pela luz da natureza; outros a têm até numa medida maior que a de muitos santos, e agem até de forma mais coerente com a certeza que derivam a partir dela – como os demônios – mas nem por isso essa fé lhes assegurará a vida eterna.
III – A FÉ É JUSTIFICADA PELAS OBRAS (VV. 20-26) O apóstolo chama aquele que alega ter uma fé sem obras de “homem vão”, mas admite uma possível insistência deste em querer provas de que a fé sem obras é realmente morta. Tiago então se reporta à autoridade final nas questões de fé e prática: as Escrituras, em especial ao testemunho divino sobre as palavras e atos dos antigos. Assim, não é ninguém menos que Abraão, aquele que é chamado de “pai da fé” pelo apóstolo Paulo, que o escritor aqui demonstra ser igualmente “pai das obras”, por assim dizer. Como já destacamos, não há contradição nenhuma implícita no texto; Tiago conhecia tão bem como Pedro e os demais apóstolos a doutrina da justificação pela fé; tudo o que ele está fazendo é apontar um aspecto necessário da obra da graça de Deus no homem que estava sendo desprezado pelos que negavam a eficácia da piedade – aspecto esse também demonstrado na vida de Abraão. Tiago recorda então seus leitores, certamente versados no Antigo Testamento, que ao mesmo tempo que Abraão tem testemunho de ter agradado a Deus exclusivamente pela fé, ele também o tem ao realizar obras que evidenciavam sua fé em Deus. O escritor poderia ter citado a saída de Ur, a circuncisão e outros exemplos, mas preferiu tomar o último e mais expressivo ato de obediência e submissão do patriarca ao Altíssimo para que seus leitores pudessem entender que, por mais que distasse muitos anos desde o testemunho alcançado inicialmente pela fé, era um ato que corroborava ou, na expressão de Tiago, aperfeiçoava aquela fé, pois era fruto e evidência dela (cf. Gn 15.6; Hb 11.17). Notemos que ele acrescenta a descrição, muito importante para o argumento, que, em decorrência desta obra, Abraão passou a ser chamado o “amigo de Deus” – o que ele associa com a justificação, no verso seguinte. Ao exemplo seguinte, de Raabe, poderiam, na verdade, ser acrescentados todos os exemplos das Escrituras – de fato, aqueles que o escritor aos Hebreus apresenta como os antigos que alcançaram, pela fé, testemunho de que agradaram a Deus, e que nós chamamos de “heróis da fé”, bem poderiam ser também chamados de “heróis das obras”, pois todos eles demonstraram sua fé em grandes atos de obediência que expressam sua confiança em Deus e esperança nas Suas promessas.
CONCLUSÃO Assim como não podemos nos enganar com a religiosidade daqueles que confiam nas suas próprias obras, quando a salvação se dá somente pela graça, por meio da fé; devemos também ter cuidado com o erro mais comum daqueles que se dizem evangélicos, de esvaziar essa fé do seu conteúdo espiritual, que nos vincula ao reino de Deus e nos torna aptos a seguir o exemplo daqueles que, antes de nós, fizeram grandes coisas por essa fé.
PARA USO DO PROFESSOR