LIÇÃO 5
JESUS E A HIPOCRISIA RELIGIOSA
TEXTO ÁUREO: “Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.” (Lc 12.1)
LEITURA BÍBLICA: MATEUS 15.1-9
INTRODUÇÃO A partir das discussões de membros da liderança política e religiosa do povo de Israel – isto é, os fariseus e saduceus, escribas e doutores da lei – com o Mestre, podemos facilmente constatar que esses homens eram constantemente confrontados pelos ensinos de Jesus. Esse confronto se dava tanto pelo aparente zelo religioso que alardeavam diante do povo, como pela falta de sinceridade de suas vidas diante de Deus – falta de sinceridade essa que é chamada de hipocrisia e que se evidenciava em diversas atitudes pecaminosas que eles encobriam com o véu da falsa religiosidade, e que o Mestre desmascarou oportunamente, exortando-nos a evita-las como um fermento que corrompe a verdadeira piedade.
I – A HIPOCRISIA DESONRA A DEUS (MT 15.1-9) O primeiro episódio que ilustra o perigo da hipocrisia religiosa é aquele em que os escribas e fariseus acusam os discípulos de Jesus de comerem sem lavar as mãos, supostamente invalidando a tradição dos antigos. A base desta acusação é que os antigos costumes dos israelitas, transmitidos oralmente de pai para filho, ao longo de muitas gerações, eram uma espécie de complemento necessário à correta observância da Lei de Deus, a fim de se evitar qualquer transgressão involuntária. No caso em apreço, a tradição ditava a necessidade de lavar-se muitas vezes para que nenhuma impureza porventura involuntariamente se apegasse ao corpo ou às mãos, e assim contaminasse o interior do indivíduo se este, com as mãos impuras, ingerisse algum alimento (cf. Mc 7.3-4; At 10.14). O Senhor Jesus devolve então a pergunta dos escribas e fariseus apontando uma falta ainda mais grave cometida por eles mesmos (cf. Mt 7.3-5). O Mestre demonstra, pela citação de um caso particular, que a tradição dos antigos contradizia o mandamento de Deus; e que, especialmente nesse caso de contradição, era preferida pelos fariseus e escribas à própria palavra de Deus. No primeiro aspecto, essa tradição se mostrava ser doutrina de homens, e não de Deus, pois a palavra divina não se contradiz. No segundo aspecto, o zelo daqueles líderes ficava desmascarado como hipocrisia religiosa, pois, embora afirmassem louvar a Deus, na verdade O negavam e desonravam, ao preferir a palavra de homens quando esta se opunha ao mandamento (cf. At 5.29). E este é apenas um dentre muitos outros casos que Jesus desmascara como uma prática ou atitude que, embora fosse guardada religiosamente pelos judeus, era contrária ao próprio espírito da Lei de Deus. A faceta da hipocrisia aqui ilustrada revela a terrível realidade espiritual de que o homem tende a buscar aceitação com Deus não em uma sincera disposição do coração que o impulsione a obedecer sem reservas aos mandamentos; mas em uma aparência de religião, enganando-se com a idéia de que ser aceito ou justo aos olhos dos homens é o mesmo que ser aceito e justo com Deus. E, por isso mesmo, ele se sente à vontade para repelir os mandamentos no seu íntimo, fomentando vícios e julgando que a pureza exterior é suficiente aos olhos de Deus (cf. Mt 15.10-11, 17-20; Lc 10.39-40). E, se não bastasse o fato de que o Senhor não aceita a atitude exterior desacompanhada da piedade no coração; esta passagem também revela que, levado por esse tipo de hipocrisia, o homem tende a se cercar de apoios religiosos exteriores criados por sua própria vontade e invenção, sob os mais diversos pretextos de piedade e “melhor” obediência a Deus, os quais não passam de práticas carnais, de verdadeiros ídolos; ou, tal como fermento, de doutrinas humanas que contaminam e invalidam todo esforço de se agradar a Deus (cf. 1 Sm 15.22-23; Cl 2.23; Mt 16.5-12).
II – A HIPOCRISIA JULGA PELA APARÊNCIA (LC 6.41-46) Esta passagem reúne dois aspectos importantes do ensino de Jesus acerca do perigo da hipocrisia. O primeiro deles se encontra no fato de que o hipócrita tende a apontar e julgar as faltas que vê no próximo, ao invés de considerar os seus próprios pecados e procurar lidar com eles para o seu próprio bem (cf. Lm 3.39; 1 Jo 1.8). Os pecados daquele que é julgado pelo hipócrita são considerados menores (como um argueiro diante de uma trave) porque o que julga vê considera apenas a aparência, não sendo capaz de sondar a disposição do coração – de onde sai aquilo que realmente purifica ou contamina o homem. Assim, ao julgar o próximo, além de presumir um direito exclusivamente divino – há apenas um Juiz, que é Deus – o hipócrita pode estar muito longe da realidade do juízo divino quanto ao próximo e quanto a si mesmo (cf. Lc 18.10-14; Tg 4.12). O erro do hipócrita está em julgar pela aparência, e não segundo a reta justiça, como disse Jesus em outro lugar. Mas a citação: “Tira primeiro a trave...” sugere que o hipócrita negligencia o exame de sua própria consciência, mais fácil de se realizar em relação a si mesmo do que em relação ao próximo; tanto mais porque a comparação que se segue da árvore e seus frutos ilustra claramente que, quando nos julgamos a nós mesmos, a justiça ou impiedade se evidenciam por aquilo que procede do nosso coração, na forma de palavras ou obras, assim como o fruto evidencia o tipo de árvore. O hipócrita, ignorando o testemunho da sua própria consciência, prefere se ocultar na religiosidade que ostenta diante dos homens, pela qual condena os demais e se justifica a si mesmo (cf. Mt 12.34-37; Rm 2.1-3).
III – OS HIPÓCRITAS SERÃO CONDENADOS POR DEUS (MT 23.1-4) A última passagem da lição é a que mais extensamente ilustra a gravidade do pecado da hipocrisia e a extensão de suas terríveis conseqüências e efeitos. Jesus inicia este discurso reconhecendo a existência daqueles que se incumbem de ensinar a doutrina. Existe o perigo dos falsos profetas, sim, como Jesus adverte em outro lugar; mas aqui Ele chama nossa atenção para aqueles que, embora ensinem a verdade com suas palavras, não a ensinam com suas obras, mas antes a negam. São rigorosos sobre o cumprimento da palavra por parte dos que os ouvem, mas não estão dispostos a cumpri-la por si mesmos (cf. 2 Tm 3.5). Não que os mandamentos de Deus sejam pesados; mas a forma como o hipócrita apresenta a doutrina de Deus não admite compaixão, misericórdia, mas apenas a constante ameaça da condenação para os faltosos (cf. Mt 12.7; 11.29; 1 Jo 5.3). Seguem-se então os ais, isto é, a ira de Deus atraída pela hipocrisia e seu desserviço ao reino dos céus. Consideremos (vv. 13-15) quantos são espiritualmente prejudicados pelo hipócrita, que não entra ele mesmo no reino dos céus por não obedecer à vontade de Deus, e impede outras almas, julgando-as e condenando-as injustamente pelos seus pecados, privando-as de qualquer apelo à misericórdia e perdão divinos. Quantos são os que se enganam com a sua aparência de piedade, enquanto o hipócrita se vale da boa vontade dos mais simples para se beneficiar a si mesmo (cf. 1 Tm 6.5). Como, no seu anseio por promover sua própria autoridade, o hipócrita até consegue trazer novos aderentes à fé, mas estes, com o tempo, aprendem os caminhos da dissimulação, tornando-se mais dignos de condenação do que seus mestres. Enfim, não obstante a hipocrisia ser um pecado que pressupõe o conhecimento da piedade, da religião, do evangelho, e mesmo de Cristo; naquele dia será desmascarada como a atitude daquele que, por praticar a iniqüidade, seja por qual pretexto for, jamais foi conhecido por Cristo (cf. Lc 13.25-27).
CONCLUSÃO Porfiemos por viver o evangelho em sinceridade e verdade, julgando-nos a nós mesmos como estando diante de Deus, sabendo que Ele não olha o exterior, mas sim o interior, e que a Sua vontade é que a Sua palavra seja ouvida, guardada em nossos corações, e aplicada em nossos caminhos.
PARA USO DO PROFESSOR