LIÇÃO 4
JESUS E O AMOR AO PRÓXIMO
TEXTO ÁUREO: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.” (Rm 13.8)
LEITURA BÍBLICA: LUCAS 10.25-37
INTRODUÇÃO Alguns dos ensinos mais notórios e surpreendentes de Jesus são aqueles que dizem respeito ao nosso relacionamento com o próximo. Surpreendendo a muitos religiosos que esperavam poder justificar-se diante de Deus à parte e alheios aos seus semelhantes, a máxima exarada no mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” – e demonstrada perfeitamente na obra consumada na cruz – ilustra a importância vital da prática do amor ao próximo, em todas as suas aplicações e aspectos, para aquele que verdadeiramente deseja seguir o Mestre.
I – QUEM É O MEU PRÓXIMO? (LC 10.25-37) A questão inicial proposta a Jesus pelo escriba não é diferente daquela feita pelo jovem rico, exceto que desta vez a intenção era a de tentar o Mestre, esperando que Ele dissesse algo que destoasse da Lei. O escriba desejava saber o que fazer para herdar a vida eterna e a resposta é extraída pelo Mestre da própria boca do inquiridor: “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”. Há que se destacar que a parte final desta citação não consta na mesma passagem (cf. Dt 6.5; Lv 19.18), mas, ao ser indagado em passagens paralelas, tanto Jesus afirmou como os próprios escribas reconheceram que amar a Deus e ao próximo eram os mais importantes mandamentos, e que esta era a essência da Lei (cf. Mt 22.34-40; Mc 12.28-34). É louvável que este homem tenha admitido que a verdadeira piedade consiste mais numa disposição interior de sinceridade e voluntariedade para com Deus do que em formas exteriores de religiosidade; e considerado que amar o próximo seja um mandamento de quase igual importância. Mesmo assim, ele procura tranquilizar sua própria consciência diante do conselho: “Faze isso e viverás”, e recorre ao subterfúgio de perguntar: “Quem é o meu próximo”, sugerindo o seu desconforto com o fato de que devemos amar a todas as pessoas, sem exceção – e não apenas amar os que nos amam, e odiar nossos inimigos, como dizia a tradição dos antigos. Jesus responde ao escriba com uma ilustração cujo ensino é de que qualquer pessoa é o nosso próximo, mesmo aquele que por qualquer outro motivo seríamos levados a considerar um inimigo; e ao mesmo tempo condena a hipocrisia dos escribas e fariseus, apontando sua falta de compaixão e misericórdia, não com inimigos, mas com seus próprios conterrâneos, a despeito de toda a sua religiosidade (cf. Mt 12.7). Era um judeu, como eles, que descia de Jerusalém para Jericó, e que havia caído na emboscada dos assaltantes; mas nem a religião do levita, nem a ciência do doutor foram suficientes para comovê-los em relação ao seu próximo; ao passo que o samaritano, “vendo-o, moveu-se de íntima compaixão”, e isto a despeito da acirrada aversão que havia entre judeus e samaritanos (cf. Jo 4.9, 20). O escriba admitiu, a contragosto, que o samaritano havia sido o próximo do judeu ferido na estrada, porquanto havia usado de misericórdia; e aqui chamamos a atenção para o aspecto de que amar o próximo significa ser o próximo de outro. Os escribas e fariseus amavam apenas aqueles que os amavam, numa atitude semelhante à de muitos hoje que acreditam ser o sentido do mandamento em pauta; mas a lição aqui é que não devemos amar apenas amigos, parentes ou irmãos na fé; devemos amar a todos os nossos semelhantes, sejam eles estranhos, sejam eles inimigos (como o samaritano poderia ter considerado o judeu, e vice-versa), estando sempre prontos para ser o próximo de qualquer um que precisar da nossa misericórdia e compaixão (cf. Mt 5.43-45; Rm 12.20-21).
II – HUMILDADE, ESCÂNDALOS E PERDÃO (LC 17.1-4) Esta passagem condensa de forma breve o ensino registrado por outros evangelistas, e nela Jesus trata de dois assuntos diretamente relacionados com o amor ao próximo, particularmente no âmbito do amor entre os irmãos. Ora, os discípulos disputavam entre si sobre qual seria o maior deles, e o Senhor repreende essa atitude, ensinando-lhes que a grandeza no reino dos céus está em servir, em ser humilde, e não em ser altivo e desdenhoso em relação ao próximo – ora, somente aquele que ama o próximo é humilde como uma criança (cf. Mt 18.1-5; 20.26-28). O contrário, por sua vez, também é verdadeiro: aquele que não ama despreza, e não se importa se suas atitudes ou palavras servem de ofensa e tropeço na fé para aqueles que crêem (cf. Rm 14.13-15). Jesus afirma ser necessário que os escândalos ocorram porque o amor inevitavelmente esfriará como sinal dos tempos, e com isto se manifestarão aqueles que realmente são sinceros, a despeito das ofensas e escândalos do mundo; e aqueles que não têm o amor de Deus em seus corações (cf. Mt 24.10-13; 1 Jo 2.9-11). A exortação aos discípulos: “Olhai por vós mesmos”, se aplica ao cuidado que devemos ter para evitar o escândalo, isto é, não servir de ofensa ou tropeço aos irmãos; e, caso nos lembremos de que temos algo em que poderíamos escandalizar o próximo, humildemente buscar a reconciliação (cf. Mt 5.25-26; Mc 9.43-48). Por outro lado, quando é o próximo quem nos ofende, devemos instá-lo ao arrependimento e prontamente perdoá-lo; e não condená-lo, tampouco nos permitir o escândalo. O perdão é uma das aplicações do amor que mais ilustra a natureza divina desta virtude, uma vez que só perdoa ao próximo as ofensas cometidas contra si aquele que compreende que foi perdoado, numa escala infinitamente maior, das suas próprias ofensas contra Deus (cf. Mt 18.23-35; Gl 6.1-2; Ef 4.32).
III – AMAR O PRÓXIMO É AMAR A CRISTO (MT 25.31-46) A importância da prática do amor será claramente revelada na eternidade, conforme ilustrado nesta última passagem da nossa lição. Naquele grande e último dia, quando o Filho do homem vier em Sua glória, o testemunho mais notório dos salvos será o de não apenas conheceram, mas cumpriram o segundo grande mandamento, amando “por obra e em verdade” (cf. 1 Jo 3.17-18). Notemos que os fiéis aqui são celebrados pelo seu amor ao próximo, e não pelo seu amor a Deus, mas isto em nada confunde a importância de ambos os mandamentos; antes, destaca a íntima relação entre ambos os aspectos de uma mesma virtude divina. Primeiro, porque é o próprio Deus quem nos manda amar uns aos outros, porquanto Ele nos ama, e em Jesus temos o exemplo de que devemos amar aqueles que Deus ama (cf. Jo 15.9-12; 1 Jo 4.7-11; 5.1). Segundo, porque, amando uns aos outros como Ele nos amou, seremos reconhecidos como discípulos de Cristo, como aqueles que, amando uns aos outros, amam o próprio Deus (cf. Jo 13.34-35). Terceiro, porque é mais fácil amar o próximo, que podemos ver, do que a Deus, que não podemos ver (1 Jo 4.20). A lógica deste argumento é que, enquanto Deus é todo suficiente, não dependendo de nenhuma demonstração particular de nosso amor para com Ele, daí exigindo a devoção da totalidade do nosso ser; o amor pelo próximo se manifesta em atos particulares, como aqueles ilustrados nesta passagem, e não em uma dedicação integral e exclusiva de Deus. E, por último, porque Jesus, enquanto esteve entre os discípulos, era objeto desse amor “visível” ou de obras, por assim dizer; mas, ausentando-se deles ao voltar para o Pai, não os desobrigou, mas antes apenas transferiu o objeto desse amor d’Ele mesmo enquanto fisicamente presente para os próprios discípulos e fiéis, como Sua representação física neste mundo.
CONCLUSÃO Se amamos a Deus, que amemos também uns aos outros e ao próximo como a nós mesmos, para que assim a semelhança de Cristo Jesus, que amou o mundo e os Seus até o fim, seja contemplada em nós e o Pai seja glorificado naqueles que não apenas falam, mas vivem o amor de Deus.
PARA USO DO PROFESSOR
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