LIÇÃO 2
JESUS E A RENÚNCIA
TEXTO ÁUREO: “Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14.33)
LEITURA BÍBLICA: MATEUS 16.21-28
INTRODUÇÃO Na lição anterior, estudamos a salvação no seu aspecto geral, conforme ilustrado em algumas passagens dos evangelhos, e finalizamos fazendo menção à renúncia, como um aspecto negligenciado por muitos que procuram entrar pela porta estreita, mas que por causa disso naquele dia se verão do lado de fora. Portanto, na lição de hoje nos deteremos mais sobre este tema em particular, que no ministério de ensino de Jesus recebeu a devida consideração como um pré-requisito indispensável àquele que deseja seguir a Cristo e herdar a vida eterna.
I – A RENÚNCIA E O EXEMPLO DE CRISTO (MT 16.24-28) O contexto desta passagem é a confissão de Pedro de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Louvando a graça do Pai por revelar essa verdade tão sublime a Simão, o Senhor ordena que eles mantenham segredo, e explica que, antes, seria necessário que Ele padecesse muito, e fosse morto, para então ressuscitar e assim entrar na Sua glória. Pedro, então, manifesta sua indignação com essas palavras, sem dúvida movido por um zelo natural para com o Mestre, que de modo algum merecia padecer, ainda mais de forma tão brutal e injusta. Mas o Senhor discerne, por trás das boas intenções do apóstolo, uma instigação de Satanás a não obedecer à vontade de Deus; pois o instinto de autopreservação, a que o homem naturalmente cede ante o risco da morte, opunha-se diametralmente à vontade do Pai para com o Filho. Satanás sabe o quanto o homem natural ama a si mesmo e a sua própria vida, sendo capaz de abrir mão de tudo o mais para preservá-la (cf. Jó 1.9-11; 2.4-5). Discernindo o tropeço que Satanás propunha lançar em Seu caminho, Jesus repreende o adversário e vence essa tentação (cf. Mt 26.39; Jo 12.27). Mas, a fim de que não nos horrorizemos com a idéia de morrer segundo a vontade de Deus, o Senhor então explica que todos aqueles que desejam ser Seus discípulos devem trilhar o mesmo caminho (cf. Jo 12.26; 1 Pe 2.21). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e sigame” significa que esse é um caminho voluntário, onde é necessário negar-se a si mesmo, ou seja, abrir mão do amor próprio, do ter a vida por preciosa e não merecedora daquilo que criaturas mortais e pecadoras merecem; entender que o discípulo não é maior nem melhor que o Mestre – se Jesus, o Filho de Deus, sofreu e padeceu ao assumir a nossa semelhança, quanto mais nós, que estamos sujeitos a essa condição tão frágil e enferma enquanto estivermos neste mundo (cf. Fp 2.7-8). Mas, mais do que negar-se a si mesmo, é preciso tomar a cruz e seguir a Cristo; devemos estar dispostos a ser reduzidos a nada e perder tudo especialmente em conseqüência de nosso amor a Cristo e ao evangelho. Aquele que segue a Cristo é odiado por causa da verdade, assim como o Mestre, e tentado a aceitar a amizade do mundo, sob a condição de abrir mão do amor a Deus (cf. Jo 15.18-20; 1 Jo 2.15-17). Tomar a própria cruz e padecer com Cristo, na consciência de que esta é a vontade de Deus, é um dom (Fp 1.29-30). A conclusão é que, aquele que amar a sua própria vida neste mundo a perderá eternamente; e aquele que abrir mão desta vida por causa de Cristo, ainda que morra, viverá eternamente. Os interesses que o homem busca nesta vida se desfarão na morte, e a sua alma – isto é, o mesmo homem considerado sob o ponto de vista da eternidade – se perderá. Mas, renunciando por amor a Cristo, o proveito para a alma será a vida eterna. De fato, estará tendo proveito, ou lucro incomparavelmente maior, ao trocar esta vida passageira pela vida eterna (Mt 10.28; 2 Tm 2.11; Ap 2.10).
II – A RENÚNCIA E SUAS DIFICULDADES (LC 14.25-35) A próxima passagem começa com uma colocação polêmica, mas fácil de entender à luz do que já estudamos. Jesus não está nos mandando abandonar a afeição natural por nossos familiares para que possamos segui-l’O; mas, embora não seja normal, nem desejável, ter nos familiares nossos opositores ou inimigos, é preciso considerar que pai, mãe, filhos e amigos também podem se opor ao evangelho e tentar nos impedir de abraçá-lo. E, quando o amor a Deus e a obediência ao evangelho são condicionadas à aprovação dos homens, essa atitude expressa uma inclinação carnal, tão condenável quanto o amor próprio (cf. Mt 10.34-36; Lc 12.51-53). Ter de renunciar à aprovação ou à afeição daqueles que amamos é uma das grandes dificuldades encontradas por aqueles que desejam seguir a Jesus, mas o evangelho não encobre essa verdade. Somente os insensatos se iludem com a idéia de encontrar apenas alegrias e facilidades, sem atinar com a grandeza do reino de Deus e o quanto se requer do homem em comprometimento e sinceridade (cf. Lc 16.16). Seguir a Cristo é como construir um edifício – o que pode demorar e exigir muitos gastos, mas a grandeza e utilidade do edifício concluído é que motiva o construtor a trabalhar até o fim; ou como uma guerra, que causa fome, doenças, morte, põe os homens uns contra os outros, mas aquilo que está em disputa justifica a determinação de o rei seguir com o conflito até o fim. Assim a recompensa do evangelho é grandiosa, mas para aqueles que envidarem esforços em servir a Cristo, ainda que sob as maiores penalidades, até o fim (cf. Mt 10.22; Hb 10.35-39).
III – A RENÚNCIA É INEGOCIÁVEL (LC 9.57-62) Nesta última passagem, temos o relato de três homens que desejaram seguir a Cristo, mas foram impedidos por diferentes dificuldades. O primeiro, identificado também como um escriba (Mt 8.19-22) estava pronto a seguir a Cristo de imediato, mas a palavra de Jesus: “As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”, sugerem que ele, acostumado a um trabalho tranqüilo, honrado por todos e bem remunerado, talvez não estivesse tão consciente das dificuldades pelas quais Jesus e os discípulos passavam, e certamente não suportaria receber o mesmo tratamento recebiam do mundo (cf. Jo 12.42-43). O segundo parece que tinha o pai em idade muito avançada ou por alguma outra causa na iminência de morrer, e considerava muito difícil deixá-lo, sabendo que este poderia partir na ausência do filho. Se o dever ordinário para com aqueles que amamos de algum modo nos obsta de fazer a vontade de Deus (e, no caso deste discípulo, importava que ele seguisse literalmente a Cristo), consideremos que há tarefas que outros podem realizar, ao passo que o chamado do evangelho é particular e único (cf. Lc 10.39-42). Por último, aquele que se propõe seguir a Cristo, mas pede uma dispensa temporária para fazer algo que cumprir o seu dever para com Cristo nesse período, recebe talvez a mais dura repreensão: “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”. Olhar para trás significa falta de resolução em seguir a Cristo; propor-se ou iniciar a fazê-lo, mas depois desviar a atenção para outros interesses incompatíveis com a natureza do evangelho (cf. Mt 13.22; Lc 17.32).
CONCLUSÃO Só é verdadeiro discípulo de Cristo aquele que renuncia a tudo, isto é, prefere a Cristo mais do que tudo, até a própria vida, estando disposto a abrir mão para não perder a Jesus. Não quer dizer que devemos ativamente nos desfazer de todas estas coisas, mas estar prontos para abrir mão de tudo, quando e se de algum modo essas coisas se interpuserem em nossa caminhada para o céu.
PARA USO DO PROFESSOR
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