LIÇÃO 5
A ÉTICA CRISTÃ DA VIDA
TEXTO ÁUREO: “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela”. (1 Sm 2.6)
LEITURA BÍBLICA: GÊNESIS 9.1-6
INTRODUÇÃO Na lição de hoje falaremos sobre a vida natural de que desfrutamos – esse dom concedido ao homem assim como a todas as demais criaturas viventes. Como nossa abordagem será mais ética do que teológica, nosso tema se desdobrará em tópicos atualmente controversos como suicídio, eutanásia, aborto e pena de morte. É a vida um direito inalienável e o bem mais precioso, por amor do qual deveríamos abrir mão de qualquer outro direito ou valor? Ou seria a vida apenas uma condição necessária para se alcançar um fim mais elevado? Seria então negociável por outros valores e direitos? Neste caso, poderíamos dispor da própria vida em determinadas circunstâncias?
I – A VIDA É UM DOM DE DEUS 1) Deus é a fonte de toda a vida. Como o Criador dos céus e da terra, e de tudo o que neles há, para nós não há controvérsia de que a origem da vida está em Deus, e não numa produção espontânea, casual, das forças e elementos da natureza. A matéria primordial foi criada por Deus a partir do nada, e estava sem forma, vazia e inerte; então o Todo-poderoso separou, moldou e ornamentou os céus, a terra e o mar, como ambientes ideais para acomodar, suprir e agradar formas de vida superiores que ainda criaria, bem como para inspirar em uma delas – o homem – o senso de um propósito superior junto ao seu Criador (cf. Is 45.18; At 17.26-27). Assim, o Senhor Deus como que “arrematou” a obra da criação, já grandiosa e inescrutável, com os seres vivos, moldando aves, peixes, mamíferos, répteis, e finalmente o próprio homem, a partir da matéria inerte e soprando neles um princípio dinâmico, ativo, chamado de respiração, fôlego ou espírito de vida. Tornando-se “almas viventes” (Gn 1.20-21, 24-26), tais seres desfrutam de uma existência superior a de qualquer outro elemento da criação – uma existência que é própria e característica daqu’Ele que não apenas existe, mas é dinâmico e ativo, e por isso é também chamado de o Deus vivo. 2) Deus é o mantenedor de toda a vida. Embora a propagação, perpetuação e cessação da vida sobre a terra se dê por meios que, à luz do senso comum e da ciência, sejam aparentemente naturais, permanece a verdade de que Deus é o doador e mantenedor da vida em todas as suas formas. Como já estudado na lição anterior, bem sabemos que a concepção não é uma consequência absolutamente certa do relacionamento entre macho e fêmea; assim como obstáculos naturais à concepção não impediram que casais tivessem filhos (Gn 18.10-14; 29.31-33, 35; 30.1-2). Ainda que de modo mais sutil, os processos originais continuam se repetindo e a vida sobre a terra é continuamente renovada (Sl 139.13- 16). Não somente isto, mas a realidade da morte nos faz lembrar que poderíamos sequer ter vindo à vida, e que, não obstante os avanços tecnológicos e científicos na área da saúde, o tempo da nossa vida neste mundo continua dependendo de variáveis tão numerosas e imprevisíveis que somente aqu’Ele que nos deu esse dom e que soberanamente determinou todas as coisas – inclusive as “causas das mortes” – tem a conta exata dos nossos dias (Ec 3.1-2; 8.8; Mt 6.27). 3) Deus é o dono de toda a vida. Apesar da discussão ética em torno do direito à vida, que desenvolveremos a seguir, antes de tudo é necessário sublinhar um fato ainda mais importante: Deus é o dono de toda a vida e, como tal, Ele tem o direito não apenas de reclamá-la de volta quando quiser e como quiser; mas, em vista do enorme potencial e do propósito superior que Ele estabeleceu para a vida humana, também exigir satisfação sobre o uso que fizemos dela. Assim a vida é um dom maravilhoso, que implica em uma grande responsabilidade, pela qual todos deverão responder, seja por sua negligência, seja por sua prudência (Ec 3.15; 12.1-7).
II – A SANTIDADE DA VIDA 1) Somente Deus pode tirar a vida. Como doador, mantenedor e senhor absoluto da vida, somente Deus tem o direito de reclamá-la de volta, seja de um ser humano ou animal, da forma como Ele soberanamente quiser (Mt 10.29; Dt 32.39; Ez 18.4). Nenhuma criatura foi criada para tirar a vida de outra, mas, por conta da corrupção do pecado e da violência, o Senhor concedeu a vida dos animais ao homem para fins de alimentação e domínio sobre a terra (Gn 1.29-30; 9.1-3). Mas, ao mesmo tempo, estabeleceu a lei do sangue, pela qual o homem deve reconhecer simbolicamente essa concessão ao matar um animal para se alimentar; assim como reforçou o caráter particularmente sagrado da vida humana, em vista do seu propósito superior (Gn 9.4-6; Ex 20.13). E, mesmo havendo uma clara delegação do poder de tirar a vida humana aos chamados “magistrados” – sendo esta a forma de fazer punir os culpados de crimes como adultério e o próprio homicídio – a palavra de Deus elenca de forma sistemática e inequívoca as situações em que a pena capital deveria ser aplicada (cf. Ex 21.14-17, 23-25; 22.18-20; Rm 13.1-4). 2) A natureza e extensão do mandamento. Não obstante a clareza da injunção divina: “Não matarás”, é importante explicar que o mandamento condena o que hoje chamaríamos de homicídio doloso, quando há intenção de se tirar a vida. Ou seja, absolutamente nada justifica tirar a vida de outrem; tirar a vida de um semelhante é injustiça, pois priva o indivíduo dos dias que Deus, na Sua bondade e generosidade, lhe distribuiu nesta terra (Gn 4.10-11). Assim, eutanásia viola o mandamento, além de expor a falta de fé em Deus numa possível melhora em seu quadro – melhora esta que só ocorrerá se estiver vivo (cf. Ec 9.4-5). Do mesmo modo, suicídio também não é uma opção justa, pois, se outros não podem dispor da nossa vida, por desesperadora que seja a circunstância que sugere tal “solução”, porque ela pertence a Deus, tampouco nós mesmos podemos fazê-lo. Daí o aborto se afigura como a forma mais cruel de violar o mandamento, pois, além de ser inocente, a vítima está indefesa, é incapaz de opinar, e a morte prematura priva um ser único de fazer ou ser aquilo que Deus poderia ter planejado para Sua vida – como é o caso de todos os homens e mulheres do passado, para não dizer do nosso próprio Senhor Jesus (Mt 1.20; Lc 1.42, 43).
III – O VALOR DA VIDA HUMANA 1) Deus é mais importante que a própria vida. Considerando que a vida humana existe para servir a um propósito superior – propósito este resumido na expressão: “buscar ao Senhor e encontra-lo” – eis a única razão que justificaria, não tirar a vida de outrem, mas abrir mão de nossa própria vida. Nossa resposta a Deus, em relação a esse propósito, já envolve em muitos aspectos uma disposição da própria vida que não inclui apenas a renúncia ao pecado – o que é uma morte figurada (Mt 16.24-26); mas a ameaça da morte de fato constitui a prova máxima da nossa sinceridade e devoção, e se justifica pela certeza de que, se morrermos por amor ao Senhor da vida, não apenas ela nos será restituída para nunca mais ser perdida, mas a desfrutaremos em condições que aqui jamais poderíamos alcançar (Lc 12.4-5; Jo 5.29; Hb 11.35; Ap 2.10).
CONCLUSÃO A verdadeiro valor da vida humana só pode ser apreciado por aquele que reconhece o seu doador e que está disposto a usar todo o seu potencial e até mesmo abrir mão dela para alcançar o supremo propósito da sua existência – amar e viver para o Deus vivo e assim, só assim, poder desfrutar desse dom eternamente.
PARA USO DO PROFESSOR