25 janeiro 2022

005-A Genealogia dos Filhos de Deus - Gênesis Lição 05[Pr Afonso Chaves]25jan2022


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 LIÇÃO 5 

A GENEALOGIA DOS FILHOS DE DEUS 

TEXTO ÁUREO: “E a Sete mesmo também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então, se começou a invocar o nome do Senhor.” (Gn 4.26) 

LEITURA BÍBLICA: GÊNESIS 5.1-24 

INTRODUÇÃO Como ressaltamos na lição anterior, tendo nascido como uma compensação a Abel, morto por Caim, Sete encabeçou uma segunda linhagem de filhos de Adão que, muito diferente da prole de Caim, se destacaria pelo senso de finitude desta existência, prejudicada pela Queda, e pelo desejo de se voltar para Deus e andar com Ele. A genealogia que se nos apresenta no capítulo 5 de Gênesis esconde, por trás de sua fórmula “repetitiva” de expressar a passagem de uma geração para outra, e dos breves trechos que oferecem alguma informação adicional, o testemunho de muitas gerações que agradaram tanto a Deus que foram consideradas dignas de alcançarem grandes livramentos. 

I – O PROPÓSITO DA GENEALOGIA DE SETE (5.1-20) No contexto mais amplo das Escrituras Sagradas, podemos dizer que a genealogia dos filhos de Sete, juntamente com a dos filhos de Noé, têm o propósito de indicar como Deus, tendo feito a promessa acerca da semente da mulher, providenciou para que a inimizade entre os filhos desta e os da serpente permanecesse viva, se não entre todos os filhos dos homens – como ocorreu no caso de Caim – ao menos numa parcela menor desses, parcela esta que se reduziria ainda mais após o dilúvio, e depois na seleção de Abraão, e de Isaque, e de Israel, os quais conservaram a promessa até que ela finalmente se cumpriu na manifestação do Salvador, Cristo Jesus. Em outras palavras, a genealogia mostra a eleição divina em ação, Deus manifestando Sua graça de modo abundante e ao mesmo tempo sabiamente planejada, tratando primeiro com poucos para que, eventualmente, muitos outros pudessem receber o testemunho da verdade e serem salvos (Rm 9.22-23; At 14.15-17; Gl 3.8). Embora o costume nos tempos bíblicos sempre tenha sido o de considerar apenas os antepassados homens de uma linhagem, no presente caso devemos fazer a ressalva de que nem mesmo todos os homens nascidos nas gerações de Sete são expressamente citados nesta genealogia. De Adão a Noé, são citados dez nomes apenas, os quais, de fato, viveram num período de tempo que inclui toda a chamada “era antediluviana”. Mas diz o texto sagrado que cada um destes homens teve filhos e filhas, cujos nomes não são citados, nem o tempo em que nasceram, ou quantos anos viveram. Concluímos, então, que os nomes que se nos apresentam de primogênitos segundo a eleição divina, alguns dos quais tendo se destacado, como Enoque e Noé, pelo seu testemunho de devoção ao Senhor, e cada um deles formando como que um “elo” da corrente de piedade e esperança na promessa redentora. Isto quer dizer que nem mesmo entre os descendentes de Sete todos andavam com Deus, mas muito pelo contrário, conforme veremos nos dias de Noé. A citação do tempo em que cada um desses dez patriarcas nasceu, e gerou seu “herdeiro” espiritual, por assim dizer, e morreu, se tomada no seu valor literal (como de fato deve ser), faz muito sentido, não apenas por definir o período cronológico abrangido pela era antediluviana, mas também por nos dar um vislumbre da longevidade de que aqueles primeiros homens desfrutavam – certamente um sinal da benevolência divina para com os fiéis e piedosos daquelas gerações. A única exceção é Enoque, cujo caso estudaremos a seguir. Contudo, depois destes, as gerações pós-diluvianas vão sofrer uma redução cada vez maior de seus anos sobre a terra, mas entre o povo de Deus por muito tempo ainda se encontrarão homens de idade muito avançada (Gn 47.8-9; Sl 90.10). Consideremos também que todos esses patriarcas foram contemporâneos uns dos outros, com exceção de Noé, que nasceu depois da morte de Adão e de Sete, mas que poderia muito bem ter ouvido as palavras destes homens por boca de seu pai Lameque. Isto estabelece uma transmissão quase direta do conhecimento de Deus revelado no princípio e das experiências dos primeiros homens de Deus que mais tarde seriam eternizadas nas Escrituras. 

II – ENOQUE E O SEU TESTEMUNHO (5.21-24) Embora a morte já fosse uma realidade confirmada não apenas pelos homicídios perpetrados por Caim e seus descendentes, a Escritura afirma também a ocorrência da morte “natural”, pela qual os homens puderam ver cumpridas as palavras: “até que te tornes à terra”. Seja como for, as primeiras referências à morte natural ocorrem neste capítulo, e são justamente as desses patriarcas que estamos estudando. Neste sentido, Adão foi o primeiro a ver a morte, e a experiência de testemunhar o término da existência do primeiro homem poderia ter deixado todos os demais em choque, diante da realidade que esperava a todos – inevitavelmente, um a um, na sua ordem, seriam recolhidos, por mais extensos que fossem seus anos sobre a terra (Ec 8.8; 9.4-5). Contudo, Deus queria ensinar uma preciosa lição aos Seus, aqueles que invocavam o Seu nome. E assim, para que a esperança dos fiéis não perecesse ante a realidade da morte tanto do ímpio como do justo, sobrevém a experiência de Enoque, tomado por Deus e salvo para não ver a morte, poucas décadas depois da morte de Adão. A linguagem da Escritura, embora simples, é clara em indicar que o “arrebatamento”, ou “translado” de Enoque se deu como um sinal de aprovação de Deus, como um coroamento da piedade deste homem que “andou com Deus” (cf. Hb 11.5). Evidência da profunda comunhão de Enoque com Deus temos no fato de que em seus dias ele profetizou duramente contra a impiedade, que já grassava a terra (Jd 14-15). É verdade que nenhum outro depois dele – com exceção de Elias – foi do mesmo modo arrebatado para não ver a morte; mas fica a lição de que o Senhor Deus pode salvar o homem dela, e o fará para aqueles que n’Ele esperam (1 Co 15.51-54). 

III – NOÉ E A ESPERANÇA DE UM DESCANSO (5.25-32) O restante do capítulo enumera as gerações que sucederam a Enoque até chegar em Noé, e sobre ele a Escritura destaca a menção profética que lhe valeu o nome: “Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou”. A vida numa terra amaldiçoada era dura e difícil, mas Lameque tinha esperança de que, através daquele seu filho, Deus faria cessar a labuta humana, que já se estendia há gerações, e que se agravava ainda mais com a multiplicação da impiedade. Nas próximas lições veremos como isto se cumpriu, pois em Noé a raça humana e toda a criação foram salvas de um mundo condenado pelo pecado para repovoarem um “novo mundo”, por assim dizer, uma terra que Deus já não mais amaldiçoaria por causa do homem (cf. Gn 8.20-21). Consideremos, finalmente, que, ao contrário do estilo de toda a genealogia, o capítulo se encerra citando três filhos de Noé, e não apenas aquele que seria o seu “sucessor” na linhagem dos fiéis. O momento oportuno para revelar a eleição de Sem ainda chegaria, mas depois que seu pai cumprisse o seu próprio testemunho entre os homens. 

CONCLUSÃO A linhagem dos filhos de Deus vai se definindo através das experiências espirituais que começaram com o invocar do nome do Senhor e que foram coroadas com o translado de Enoque. Vendo neste sinal a misericórdia e boa vontade de Deus para com os fiéis, essa linhagem preservou a esperança de uma redenção, que em breve viria na figura de um recomeço, tendo à sua frente o último descendente da linhagem, Noé.

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18 janeiro 2022

004-Os Filhos de Adão - Gênesis Lição 04[Pr Afonso Chaves]18jan2022

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 LIÇÃO 4 

OS FILHOS DE ADÃO 

TEXTO ÁUREO: “No dia em que Deus criou o homem, `a semelhança de Deus o fez ... E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme à sua imagem, e chamou o seu nome Sete” (Gn 5.1, 3) 

LEITURA BÍBLICA: GÊNESIS 4.1-12 

INTRODUÇÃO Com a transgressão do primeiro homem consumada e sua queda do estado de pureza original selada através da sua expulsão para fora do Éden, veremos como os primeiros descendentes de Adão lidaram com a existência num mundo onde a morte rapidamente se mostraria uma realidade insofismável, muitos rendendo-se às inclinações de uma natureza predominantemente pecaminosa, e outros apegando-se à esperança de redenção e voltando-se para o seu Criador. 

I – ABEL E O TESTEMUNHO DA FÉ (4.1-7) Muitas lições preciosas foram deixadas por ocasião do julgamento do primeiro casal, antes de serem expulsos do jardim. Uma delas foi que, embora destituídos da honra e glória de que desfrutavam no princípio, tendo de provar integralmente o amargo fruto da desobediência, o homem e a mulher não foram abandonados pelo Criador. Numa demonstração de que todas as adversidades pelas quais a humanidade passaria estão no Seu absoluto controle e contribuem para um propósito maior, o Senhor Deus deixa a esperança de uma redenção poderosa para livrar a raça humana tanto da culpa como da condenação do pecado. Essa esperança foi primeiro indicada na promessa acerca da semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente; depois, no fato de que Deus fez túnicas de peles para Adão e Eva e os vestiu – aludindo não apenas à privação de cobertura física, mas ao senso de culpa que somente poderia ser mitigado por meio de uma compensação, no sacrifício de uma vida inocente (naquele estágio em que tudo se limitava a figuras, de algum animal) em lugar do pecador (Hb 9.22; cf. Is 30.1). E é com esta lição que passamos a considerar os fatos narrados no capítulo 4. Uma vez expulsos do jardim, Adão e Eva não foram privados da sua missão e do propósito para o qual foram criados, embora condicionados à corrupção e a diversas severidades na realização de todas as suas atividades. Neste contexto, a Escritura menciona Caim (que significa aquisição) e Abel (vaidade), dois filhos que nasceram ao primeiro casal e cujos nomes indicam, respectivamente, que a mulher, mesmo tendo sido enganada pela serpente, ainda tem na capacidade de gerar filhos, como um sinal da misericórdia e salvação de Deus – fato lembrado depois pelo apóstolo Paulo (1 Tm 2.14-15); e que, por outro lado, a vida tornou-se mais incerta e efêmera, pelo fato de que a morte poderia sobrevir ao homem a qualquer momento, inesperadamente (Jo 7.6). Além disso, a Escritura não apresenta mais detalhes sobre a vida de Caim e Abel, exceto que o primeiro foi lavrador da terra e o segundo, pastor de ovelhas. Ocorre então que, decorrido um período de tempo, ambos se apresentam ao Senhor com uma oferta. Isto implica em várias coisas, como o conhecimento acerca de onde poderiam estar diante do Senhor – lembrando que o caminho para o jardim e a árvore da vida era guardado para que ninguém se aproximasse de lá inadvertidamente; implica também que, tendo sido banido da presença do Senhor, pela sua desobediência, o homem só poderia tentar se aproximar mediante uma oferta propiciatória, isto é, de reconciliação com Deus. Era o pecador manifestando o desejo inato de reparar o erro cometido, de voltar à presença do Senhor. Voltando-nos para as ofertas, poderíamos imaginar que cada um ofereceu daquilo que sua mão alcançava, e que ambas deveriam ser aceitas. Contudo, a instrução já havia sido deixada na forma da figura profética: a justiça divina demandava vida por vida, isto é, sangue inocente derramado em lugar do pecador para que este fosse aceito de volta. Pelo desdobramento do diálogo entre Deus e Caim, notamos que este ignorou a lição deixada aos pais, e, mesmo instado pelo próprio Senhor a fazer o bem – isto é, a oferecer de forma correta – recusou-se, porque, como elucida a própria Escritura, seu coração era maligno e cederia facilmente aos impulsos do ciúme e do ódio (v. 7; 1 Jo 3.12). Por outro lado, Abel não apenas compreendeu, mas foi capaz de atender à demanda divina somente pela graça e virtude da fé: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons” (Hb 11.4). 

II – CAIM E O PREDOMÍNIO DO PECADO (4.8-24) O final trágico da relação entre estes dois irmãos indica que, através de uma só desobediência, o pecado havia se estabelecido como um princípio ativo e poderoso no coração dos homens, manifestando-se logo no início com a malícia e mentira tão características daqueles que se entregam ao seu domínio (cf. Rm 3.13-17). Este foi o primeiro caso de homicídio, propriamente atribuído a Satanás por se tratar de uma primeira manifestação da inimizade entre a sua semente e a semente da mulher (Jo 8.44). Note-se que a atitude seguinte de Caim é diabolicamente desafiadora, como se o Senhor não soubesse do que realmente havia acontecido e, sabendo, não tivesse sido capaz de impedir a morte do justo Abel, livrando-o do mal. Embora desta vez Caim estivesse desacompanhado de seu irmão, Deus ainda ouvia Abel, no sentido de que, tendo sua vida sido ceifada por causa da verdade e do seu testemunho de fé, era recebida por Deus na forma de um clamor por justiça – como são as vidas de todos aqueles que morreram por amor ao evangelho (cf. Ap 6.9-11). Notemos que, condenado a experimentar uma severidade ainda maior na sua existência terrena, Caim assume estar completamente perdido e desesperado, e se exclui por si mesmo de toda oportunidade de alcançar misericórdia da parte de Deus. Partindo então para longe da presença do Senhor, ele se estabelece na terra de Node, onde forma sua própria família, que se desenvolve num agrupamento maior de pessoas, chamado aqui de “cidade”. E, entre os membros dessa linhagem, a malícia que havia predominado no coração do seu antepassado-fundador se tornará em hábito, e os maiores pecados, em motivo de louvor. Tamanha corrupção predominaria sobre a terra que eventualmente o Senhor determinaria a destruição daquela geração corrupta (cf. Gn 6.5-7). 

III – SETE E A INVOCAÇÃO DO NOME DO SENHOR (4.25-26) O capítulo que estamos estudando se encerra, porém, com um raio de luz. Embora não fosse a verdadeira semente da mulher, Abel cumpriu o seu propósito como o primeiro dentre muitos que seriam mortos pela causa da verdade e da justiça, assim indicando como um tipo a carreira daquele que é a verdadeira semente da mulher – Cristo Jesus (cf. Lc 11.51; Hb 12.24). Mas, morto Abel, estava morta a possibilidade de uma linhagem que andasse nos seus passos, enquanto a descendência de Caim floresceria seguindo o caminho de corrupção de seu próprio pai. Assim, sabiamente Eva considera Sete (compensação) um substituto de Abel, um outro filho, que não veio para cumprir o mesmo papel de seu irmão justo, mas sim ser o patriarca de uma linhagem que sem dúvida escolheu seguir o caminho da reflexão sobre a brevidade da vida e a necessidade de se buscar o Senhor enquanto se pode acha-l’O – o que se reflete tanto no nome de Enos (ser fraco, mortal), filho de Sete, como na declaração explícita: “então se começou a invocar o nome do Senhor”. 

CONCLUSÃO Neste capítulo estudamos a demonstração de dois princípios espirituais: da natureza corrupta do homem e da graça que se manifesta pela fé num coração obediente. Vimos também como ambos se estabeleceram como característica predominante em duas linhagens distintas, que mais tarde serão chamadas, uma de “filhos de Deus”, e outra simplesmente de “filhos dos homens”.

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13 janeiro 2022

003-A queda do Homem - Gênesis Lição 03[Pr Afonso Chaves]11jan2022

 

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 LIÇÃO 3 

A QUEDA DO HOMEM 

TEXTO ÁUREO: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram.” (Rm 5.12) 

LEITURA BÍBLICA: GÊNESIS 3.1-11 

INTRODUÇÃO Após relatar de forma concisa como Deus criou todas as coisas, e com maiores detalhes como formou o homem e o estabeleceu no Éden sob condições paradisíacas para desfrutar do melhor da terra e, junto de sua mulher, exercer a mordomia divina sobre toda a criação; rapidamente esse quadro maravilhoso de bênção e comunhão com Deus é deixado para trás. A narrativa logo nos apresenta como o pecado sutilmente se insinuou no coração de nossos primeiros pais e como um só ato de desobediência desencadeou consequências dolorosas para toda a criação, especialmente a raça humana. 

I – A SUTILEZA DA SERPENTE (VV. 1-5) Tão logo aponta a simplicidade do primeiro casal, que sequer sentia vergonha de estarem nus; a Escritura declara – praticamente fazendo uma contraposição – que a serpente era a mais astuta de todas as criaturas. Embora muitos se percam em discussões sobre a natureza dessa serpente, o fato é que estamos diante da primeira menção a um ser criado por Deus excepcionalmente inteligente e sábio, mas que resolveu fazer-se enganador, caluniador e adversário do Criador. “Antiga serpente” é o primeiro epíteto desse que depois será chamado de Satanás, o Diabo (Ap 12.9), pois neste primeiro momento, tal como uma serpente, sua abordagem é sutil e maliciosa, procurando enredar a vítima que, na sua simplicidade, é incapaz de perceber a armadilha em que vai se envolvendo. O diálogo é travado entre a serpente e a mulher. O homem “entra” na narrativa apenas para cometer o ato de desobediência junto com sua companheira, e o apóstolo chega a frisar mais de uma vez esse ponto, não para culpar mais a mulher do que o homem, mas para frisar o quanto cada um deve ser humilde e não procurar saber mais do que convém, servindo conforme a sua vocação e sujeitando-se ao seu cabeça – no caso, a mulher ao marido, assim como o homem a Cristo (1 Tm 2.13-15; Rm 12.1-3). A serpente fala de modo sinuoso demais para os simples e incautos perceberem a sua malícia: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”, e a resposta da mulher revela tanto uma falta de preocupação em reproduzir exatamente o que Deus havia dito: “do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”, como também uma falta de entendimento em relação à natureza da proibição. Deus não havia proibido comer da árvore da ciência do bem e do mal porque comer do seu fruto fosse algo intrinsecamente ruim – ora, foi Deus quem a plantou no jardim, assim como a árvore da vida e as demais árvores. Tratava-se de uma prova pela qual o homem aprenderia, não por ter comido do fruto propriamente, mas pela obediência ou desobediência, a diferença entre o bem de obedecer e viver; ou o mal de desobedecer e morrer. 

II – A PRIMEIRA TRANSGRESSÃO (VV. 6-11) A serpente se aproveita da falta de entendimento da mulher quanto à natureza da proibição divina para sugerir uma razão: “Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Semeando dúvida quanto ao caráter de Deus, o adversário induz a mulher ao mesmo caminho que ele já havia trilhado de soberba e presunção, fazendo-a considerar-se mais do que realmente é e desejar ser igual a Deus (cf. Is 14.13-14; 1 Jo 2.15-16). O homem, por sua vez, ainda que não enganado pelo arrazoamento da serpente, de algum modo é convencido pela mulher e ambos comem juntos do fruto, consumando então, como um só corpo, a transgressão. Notemos que, até aqui, o primeiro casal era simples e puro de coração; não havia neles concupiscência, desejo e nem maldade para atraí-los ao pecado. A primeira tentação veio na forma de uma insinuação exterior, que se aproveitou da falta de entendimento de nossos primeiros pais. Foram tentados quanto ao seu conhecimento de Deus, e do que esse conhecimento implicava; conhecimento esse sem o qual o homem não difere de qualquer outra criatura (cf. Sl 49.20; Pv 1.7, 22-23; 2.6-9; 3.5-7). Por outro lado, tão logo consuma a transgressão, a consciência do homem imediatamente é despertada pelo senso de culpa e desonra consequentes daquele ato, bem como pelo senso de um mal agora latente no coração, incitando a fazer aquilo que sua consciência condena, e que o separa da santidade e pureza de Deus (Rm 7.14-18). Isto é evidenciado pela vergonha que o casal sente em relação à sua nudez, pela tentativa de ocultá-la uns dos outros e depois por perceberem que não têm segurança nenhuma para permanecer frente a frente com Deus. 

III – AS CONSEQUÊNCIAS DA TRANSGRESSÃO (VV. 12-24) Questionado pelo Criador, Adão procura amenizar a gravidade do que havia feito, insinuando que a culpa seria do próprio Deus: “a mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. É como se ele dissesse que a mulher, que Deus criou para ser sua companheira e auxiliadora, não havia cumprido o seu propósito, logo teria sido um erro julgar que o homem precisava de uma companhia; ou, se ela estava ali para ser sua companheira, por que ele deveria ser questionado por ter aceitado o fruto da mão dela? Já a mulher alega a astúcia da serpente para justificar a atitude independente em relação ao marido. Quanto à serpente, que dos três era a única que realmente tinha plena consciência do que estava fazendo, sequer tem oportunidade de se explicar: “Porquanto fizeste isso, maldita serás”, mas antes é sentenciada pela atrocidade que havia cometido não apenas contra o primeiro casal, mas contra toda a criação (cf. Jo 8.44). Satanás haveria de testemunhar, contra o seu intento, que o homem não se tornaria um aliado, mas sim um inimigo ferrenho ao longo das gerações seguintes, até ser finalmente destruído pela semente, ou o descendente da mulher – que é Cristo, nascido de mulher, e que venceu Satanás através do Seu sacrifício na cruz do Calvário (Hb 2.14; Cl 2.13-15; Ap 12.10-11). O Senhor havia dito que o homem morreria no dia em que comesse da árvore. Isto não se refere apenas à morte que eventualmente se seguiria após anos de labuta sobre a terra, mas a todos os efeitos corruptores do pecado sobre ele e toda a criação. Dor, cansaço, preocupação seriam a definição de atividades que, antes da Queda, teriam sido desempenhadas de outro modo. Além disso, lembremos que o senso de culpa e aquela inclinação pecaminosa de que falamos no tópico anterior não morreriam com o casal, que havia cometido aquela primeira transgressão, mas acompanhariam seus descendentes, manifestando-se tanto na proliferação do pecado em questão de poucas gerações como no predomínio da morte sobre todos os homens – o que prova que em Adão todos morreram (Rm 3.23; 5.12-14; 1 Co 15.22). O capítulo finaliza então com o banimento de Adão e sua mulher, Eva, para fora do jardim, e o caminho para o jardim e a árvore da vida sendo vedados, pois que o homem em sua condição atual e no âmbito deste mundo, corrompido pela Queda, já não pode desfrutar de vida eterna – é necessário que ele esteja num novo céu e numa nova terra (Tg 1.12; 1 Jo 2.25; Ap 2.7; 22.2, 14). 

CONCLUSÃO A narrativa da Queda fala tanto das desastrosas consequências do primeiro pecado como da importância da sabedoria e da prudência se desejamos não ser enganados pela sutileza do pecado. Ao mesmo tempo, ao invés de nos colocar diante de um cenário de desastre irremediável, as Escrituras nos mostram que os desígnios insondáveis de Deus continuam se realizando, de tal modo que a narrativa se encerra com uma esperança de redenção e livramento do mal.

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04 janeiro 2022

002- Deus estabelece o Homem no Éden - Gênesis Lição 02[Pr Afonso Chaves]04jan2022


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 LIÇÃO 2 

DEUS ESTABELECE O HOMEM NO ÉDEN 

TEXTO ÁUREO: “E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.” (Gn 2.15) 

LEITURA BÍBLICA: GÊNESIS 2.1-17 

INTRODUÇÃO Após concluir a narrativa da criação com as palavras: “Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados”, o escritor inspirado é levado pelo espírito de revelação a descrever em maiores detalhes as condições do mundo recém criado, e como Deus apresentou esse mundo, ainda incontaminado e bom aos Seus olhos, ao homem que criara. Veremos como o Criador demonstrou grande generosidade para com os nossos primeiros pais, pondo ao seu alcance as riquezas e belezas da criação, ao mesmo tempo em que demandou deles sincera obediência, demonstrada na guarda de um único mandamento. 

I – A OBRA DA CRIAÇÃO DÁ LUGAR AO DESCANSO DE DEUS (2.1-3) Apesar da divisão do texto em capítulos, consideremos que os versos que agora estudamos ainda fazem parte da narrativa da criação. Após ordenar os atos criativos de Deus numa sequência de tardes e manhãs, a Escritura afirma que, tendo concluído Sua obra em seis dias, no sétimo Ele “descansou de toda a sua obra, que tinha feito”. A menção a esse “descanso” é muito significativa, não porque o Criador necessitasse de restauração física – Deus é Espírito, e não há momento em que Ele não esteja sustentando a criação e mantendo-a viva e dinâmica (Is 40.28; Jo 5.17). A palavra descansar aqui significa que o Criador, tendo finalizado a Sua obra, se alegrou com tudo o que tinha feito, pois era “muito bom” (Gn 1.31). Deus estava satisfeito com a criação, porque Ele faz tudo perfeito e conforme agrada aos Seus olhos. Contudo, há outra implicação nesta menção ao descanso de Deus. Fica bastante evidente que o homem, tendo sido criado no sexto, não apenas presenciou a chegada do sétimo dia no seu aspecto literal, mas se tornou consciente do seu caráter como o dia do descanso, pois é dito que Deus abençoou e santificou o sétimo dia. E, ao longo das Escrituras, encontramos que o sábado, isto é, o sétimo dia, foi abençoado e santificado para o homem – é o homem que é lembrado constantemente desse dia, para guardálo e santificá-lo; bem como é ele que se torna alvo das bênçãos divinas quando cumpre zelosamente essa guarda (Ex 20.8-11; Is 58.13-14; Mc 2.27). O objetivo do sábado não é apenas para o descanso físico do corpo e um cessar necessário da labuta cotidiana a fim de que possamos nos voltar para o Criador; mas também para nos lembrar de que, assim como Deus descansou da Sua obra, porquanto a completou com perfeição; do mesmo modo aqueles que n’Ele esperam hão de encontrar descanso de suas próprias obras, com contentamento eterno. De fato, o descanso de Deus nada mais é que a promessa de uma eterna felicidade e paz reservada para o Seu povo – aqueles que, eventualmente, entrarão no Seu descanso pela perseverança e obediência (Hb 4.1-11). 

II – O HOMEM É FORMADO E POSTO NO JARDIM (2.4-15) A partir deste verso, a narrativa retrocede para oferecer maiores detalhes sobre a criação do homem e como Deus o estabeleceu no mundo. Assim, o texto volta a descrever a criação do homem, mas desta vez destacando aspectos diferentes da sua natureza: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” – a mesma terra que haveria de lavrar para fazer a planta e a erva do campo brotarem; “e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” – do mesmo modo que os demais seres foram criados como almas viventes cujo fôlego da vida estava em seus narizes (Gn 1.21, 25; cf. 7.15, 22). Em outras palavras, enquanto a narrativa do capítulo 1 exalta o aspecto diferencial do homem em relação aos animais, porquanto foi criado à imagem e semelhança de Deus; o propósito aqui é apontar algo da sua fragilidade e limitação, as quais serão ainda mais evidenciadas até o final do capítulo e especialmente no capítulo 3. Notemos que, a fim de propiciar ao homem o melhor da criação logo no seu primeiro momento de existência, “o Senhor plantou um jardim no Éden, da banda do oriente”, e ali “fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comida, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal” (vv. 8-9). À luz da geografia moderna, é impossível determinar onde ficava a região aqui chamada de Éden, muito menos o jardim que Deus plantou nessa região. Mas este foi o lugar da primeira habitação do homem, onde ele desfrutaria dos prazeres oferecidos pela criação ao mesmo tempo em que cumpriria o seu propósito de administrar e zelar pela criação, tal como um mordomo (cf. Sl 8.5-8). 

III – ASPECTOS DA MORDOMIA DIVINA (2.16-25) O homem foi estabelecido no jardim não apenas para desfrutar das suas belezas e abundância, mas também para lavrar e guardar aquela sua primeira habitação, exercendo assim a sua mordomia sobre a terra – isto é, administrar e usufruir da criação, tendo o Criador como o único a quem deveria responder por seus atos. Na verdade, o primeiro homem desfrutava de grande liberdade: “De toda árvore do jardim comerás livremente”, e devia atentar apenas para um mandamento: “mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás”. Não importa aqui qual era a verdadeira natureza dessa árvore; Deus não explica o motivo da proibição. Tudo o que o homem devia era acatar a palavra do seu Criador, sem questionamentos e dúvidas, assim reconhecendo a verdade, justiça e soberania de Deus. Em seguida, a Escritura evidencia a necessidade de uma companhia para o homem, que pudesse auxiliá-lo no exercício da sua mordomia. Deus então traz os animais até Adão para que este possa nomeá-los e assim identificar a natureza de cada criatura (lembrando que estes nomes não são apenas rótulos sem significado, mas expressam o modo de ser de cada animal). Sabiamente, o homem não reconhece em nenhum deles algum semelhante a si mesmo. Somente depois que o Senhor Deus forma a mulher e a traz até Adão, é que este prontamente a reconhece como uma da mesma espécie: “Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada” (v. 23). Não somente isto, mas o primeiro homem discerne também, a partir do próprio modo como sua companheira foi formada, o propósito e o mistério divino da união conjugal (Mt 19.4-6; 1 Co 11.8-9; Ef 5.28-32). Este capítulo termina descrevendo Adão e sua mulher como estando nus e não se envergonhando disto. A razão de não se envergonharem é que não tinham malícia, nem qualquer senso de culpa ou falta moral. E, de fato, enquanto se mantivessem na obediência ao único mandamento que haviam recebido de Deus, não haveria razão para se envergonharem. Por outro lado, a indicação da nudez de ambos sugere, à luz do contexto mais amplo da provisão divina para redimir o homem do pecado, que eles não foram criados para permanecer assim, mas para serem cobertos. É como se ainda precisassem de algo que somente por ocasião da Queda haveria de ser revelado. 

CONCLUSÃO Este capítulo revela que o homem foi criado e estabelecido em condições paradisíacas como um sinal claro da boa vontade de Deus para com ele, mas este não haveria de ser – nem poderia ser – o seu estado final; ao menos não antes de compreender e reconhecer a bondade do seu Criador.

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