LIÇÃO 4
OS FILHOS DE ADÃO
TEXTO ÁUREO: “No dia em que Deus criou o homem, `a semelhança de Deus o fez ... E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme à sua imagem, e chamou o seu nome Sete” (Gn 5.1, 3)
LEITURA BÍBLICA: GÊNESIS 4.1-12
INTRODUÇÃO Com a transgressão do primeiro homem consumada e sua queda do estado de pureza original selada através da sua expulsão para fora do Éden, veremos como os primeiros descendentes de Adão lidaram com a existência num mundo onde a morte rapidamente se mostraria uma realidade insofismável, muitos rendendo-se às inclinações de uma natureza predominantemente pecaminosa, e outros apegando-se à esperança de redenção e voltando-se para o seu Criador.
I – ABEL E O TESTEMUNHO DA FÉ (4.1-7) Muitas lições preciosas foram deixadas por ocasião do julgamento do primeiro casal, antes de serem expulsos do jardim. Uma delas foi que, embora destituídos da honra e glória de que desfrutavam no princípio, tendo de provar integralmente o amargo fruto da desobediência, o homem e a mulher não foram abandonados pelo Criador. Numa demonstração de que todas as adversidades pelas quais a humanidade passaria estão no Seu absoluto controle e contribuem para um propósito maior, o Senhor Deus deixa a esperança de uma redenção poderosa para livrar a raça humana tanto da culpa como da condenação do pecado. Essa esperança foi primeiro indicada na promessa acerca da semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente; depois, no fato de que Deus fez túnicas de peles para Adão e Eva e os vestiu – aludindo não apenas à privação de cobertura física, mas ao senso de culpa que somente poderia ser mitigado por meio de uma compensação, no sacrifício de uma vida inocente (naquele estágio em que tudo se limitava a figuras, de algum animal) em lugar do pecador (Hb 9.22; cf. Is 30.1). E é com esta lição que passamos a considerar os fatos narrados no capítulo 4. Uma vez expulsos do jardim, Adão e Eva não foram privados da sua missão e do propósito para o qual foram criados, embora condicionados à corrupção e a diversas severidades na realização de todas as suas atividades. Neste contexto, a Escritura menciona Caim (que significa aquisição) e Abel (vaidade), dois filhos que nasceram ao primeiro casal e cujos nomes indicam, respectivamente, que a mulher, mesmo tendo sido enganada pela serpente, ainda tem na capacidade de gerar filhos, como um sinal da misericórdia e salvação de Deus – fato lembrado depois pelo apóstolo Paulo (1 Tm 2.14-15); e que, por outro lado, a vida tornou-se mais incerta e efêmera, pelo fato de que a morte poderia sobrevir ao homem a qualquer momento, inesperadamente (Jo 7.6). Além disso, a Escritura não apresenta mais detalhes sobre a vida de Caim e Abel, exceto que o primeiro foi lavrador da terra e o segundo, pastor de ovelhas. Ocorre então que, decorrido um período de tempo, ambos se apresentam ao Senhor com uma oferta. Isto implica em várias coisas, como o conhecimento acerca de onde poderiam estar diante do Senhor – lembrando que o caminho para o jardim e a árvore da vida era guardado para que ninguém se aproximasse de lá inadvertidamente; implica também que, tendo sido banido da presença do Senhor, pela sua desobediência, o homem só poderia tentar se aproximar mediante uma oferta propiciatória, isto é, de reconciliação com Deus. Era o pecador manifestando o desejo inato de reparar o erro cometido, de voltar à presença do Senhor. Voltando-nos para as ofertas, poderíamos imaginar que cada um ofereceu daquilo que sua mão alcançava, e que ambas deveriam ser aceitas. Contudo, a instrução já havia sido deixada na forma da figura profética: a justiça divina demandava vida por vida, isto é, sangue inocente derramado em lugar do pecador para que este fosse aceito de volta. Pelo desdobramento do diálogo entre Deus e Caim, notamos que este ignorou a lição deixada aos pais, e, mesmo instado pelo próprio Senhor a fazer o bem – isto é, a oferecer de forma correta – recusou-se, porque, como elucida a própria Escritura, seu coração era maligno e cederia facilmente aos impulsos do ciúme e do ódio (v. 7; 1 Jo 3.12). Por outro lado, Abel não apenas compreendeu, mas foi capaz de atender à demanda divina somente pela graça e virtude da fé: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons” (Hb 11.4).
II – CAIM E O PREDOMÍNIO DO PECADO (4.8-24) O final trágico da relação entre estes dois irmãos indica que, através de uma só desobediência, o pecado havia se estabelecido como um princípio ativo e poderoso no coração dos homens, manifestando-se logo no início com a malícia e mentira tão características daqueles que se entregam ao seu domínio (cf. Rm 3.13-17). Este foi o primeiro caso de homicídio, propriamente atribuído a Satanás por se tratar de uma primeira manifestação da inimizade entre a sua semente e a semente da mulher (Jo 8.44). Note-se que a atitude seguinte de Caim é diabolicamente desafiadora, como se o Senhor não soubesse do que realmente havia acontecido e, sabendo, não tivesse sido capaz de impedir a morte do justo Abel, livrando-o do mal. Embora desta vez Caim estivesse desacompanhado de seu irmão, Deus ainda ouvia Abel, no sentido de que, tendo sua vida sido ceifada por causa da verdade e do seu testemunho de fé, era recebida por Deus na forma de um clamor por justiça – como são as vidas de todos aqueles que morreram por amor ao evangelho (cf. Ap 6.9-11). Notemos que, condenado a experimentar uma severidade ainda maior na sua existência terrena, Caim assume estar completamente perdido e desesperado, e se exclui por si mesmo de toda oportunidade de alcançar misericórdia da parte de Deus. Partindo então para longe da presença do Senhor, ele se estabelece na terra de Node, onde forma sua própria família, que se desenvolve num agrupamento maior de pessoas, chamado aqui de “cidade”. E, entre os membros dessa linhagem, a malícia que havia predominado no coração do seu antepassado-fundador se tornará em hábito, e os maiores pecados, em motivo de louvor. Tamanha corrupção predominaria sobre a terra que eventualmente o Senhor determinaria a destruição daquela geração corrupta (cf. Gn 6.5-7).
III – SETE E A INVOCAÇÃO DO NOME DO SENHOR (4.25-26) O capítulo que estamos estudando se encerra, porém, com um raio de luz. Embora não fosse a verdadeira semente da mulher, Abel cumpriu o seu propósito como o primeiro dentre muitos que seriam mortos pela causa da verdade e da justiça, assim indicando como um tipo a carreira daquele que é a verdadeira semente da mulher – Cristo Jesus (cf. Lc 11.51; Hb 12.24). Mas, morto Abel, estava morta a possibilidade de uma linhagem que andasse nos seus passos, enquanto a descendência de Caim floresceria seguindo o caminho de corrupção de seu próprio pai. Assim, sabiamente Eva considera Sete (compensação) um substituto de Abel, um outro filho, que não veio para cumprir o mesmo papel de seu irmão justo, mas sim ser o patriarca de uma linhagem que sem dúvida escolheu seguir o caminho da reflexão sobre a brevidade da vida e a necessidade de se buscar o Senhor enquanto se pode acha-l’O – o que se reflete tanto no nome de Enos (ser fraco, mortal), filho de Sete, como na declaração explícita: “então se começou a invocar o nome do Senhor”.
CONCLUSÃO Neste capítulo estudamos a demonstração de dois princípios espirituais: da natureza corrupta do homem e da graça que se manifesta pela fé num coração obediente. Vimos também como ambos se estabeleceram como característica predominante em duas linhagens distintas, que mais tarde serão chamadas, uma de “filhos de Deus”, e outra simplesmente de “filhos dos homens”.
PARA USO DO PROFESSOR
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