O PROPÓSITO DA VIDA TERRENA
TEXTO ÁUREO: “Não é, pois, bom para o homem que coma e beba e que faça gozar a sua alma do bem do seu trabalho? Isso também eu vi que vem da mão de Deus.” (Ec 2.24)
LEITURA BÍBLICA: ECLESIASTES 2.1-11
INTRODUÇÃO Tendo aprendido na primeira lição que Eclesiastes é um discurso sobre a transitoriedade da existência humana neste mundo e, portanto, a ilusão de se buscar a verdadeira felicidade naquilo que se faz “debaixo do sol”, prosseguiremos acompanhando as considerações do sábio pregador. No presente capítulo, ele argumentará contra a indiferença que muitos tendem a demonstrar em relação à frustrante constatação de que “tudo é vaidade”, voltando-se para os prazeres e pequenas felicidades de que podem desfrutar nesta vida. Depois de provar que a tolice de tal atitude, ele nos ensina a usufruir de tais coisas segundo o verdadeiro propósito para o qual Deus as concede ao homem.
I – A VAIDADE DA BUSCA PELO PRAZER E ALEGRIA TERRENAS (VV. 1-11) “Vaidade de vaidades; tudo é vaidade”. Este é o tema e o argumento do pregador, que ele demonstra através de exemplos apresentados nos capítulos 1 e 2. Começando por constatar essa verdade com respeito à ordem natural e à ação humana, ele passa a refletir sobre a busca pelo conhecimento e pela compreensão das coisas deste mundo, e não chega a uma conclusão diferente. Salomão havia se desiludido com possibilidade de entender tudo, e com o fato de que conhecer as coisas como elas são não era suficiente para mudar aquilo que parecia estar errado. Assim, ele se propõe agora a falar sobre a atitude daqueles que, dando de ombros para a dura realidade da condição humana, se voltam para o riso e a alegria, isto é, preferem encarar as coisas com frivolidade e desfrutar ao máximo os prazeres proporcionados pela vida, fazendo dessa felicidade o propósito último da sua existência neste mundo. Como um homem que fala de acordo com a sabedoria que se aprimora na experiência, Salomão havia tomado também este caminho para testar a si mesmo. Notemos, porém, que ele não o faz como aqueles que, no seu desespero, procuram formas de se iludir e escapar à realidade; mas como o sábio que deseja compreender porque existem tais coisas como a o riso e a alegria, e qual o proveito delas para o homem, mesmo quando lhe falta o conhecimento e o temor a Deus. Neste caso, porém, o rei pregador considera que a atitude de se voltar para o riso e a alegria incondicionais não apenas é vaidade, mas loucura. Depois de experimentar todas as formas de prazeres proporcionados pelos sentidos, seja na comida e bebida, na posse e usufruto de muitos bens e riquezas, no engrandecimento e glória perante outros, na execução de muitas obras grandiosas, e na participação de muitos entretenimentos, ele descobriu que todas essas coisas nada mais proporcionavam do que uma alegria de momento, enquanto estavam sendo realizadas, e que essa alegria ficava no passado, na lembrança: “mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho”. Entregar-se a elas, portanto, como forma de afastar ou escapar às dificuldades da vida não é uma insensatez, pois isto é como recusar a realidade que a própria sabedoria procura nos apresentar de diversas formas, a fim de nos levar a Deus e a encontrarmos a verdadeira felicidade (cf. Jo 21.12-14). E o que Salomão está dizendo aqui não é que os aspectos duros e tristes da vida devem ser negados ou ignorados – e, de fato, ele não se deixou iludir enquanto experimentava todos os prazeres que sua condição privilegiada lhe proporcionaram – mas sim que até mesmo o riso e a alegria, se buscados como um fim em si mesmo, contribuem para aumentar o senso de frustração diante da vaidade da vida terrena. Enfim, por trás de cada alegria e felicidade que possamos desfrutar neste mundo, existe a tristeza do trabalho necessário para alcançá-la, e de quão transitória é a sua duração (v. 11).
II – A SABEDORIA É MELHOR QUE A ALEGRIA DESTE MUNDO (VV. 12-23) Demonstrada a vaidade dos prazeres terrenos, e a insensatez de se apegar a eles ou buscar neles um fim em si mesmo, Salomão passa a comparar essa atitude com a busca pela sabedoria que, embora padeça dos seus próprios males, ainda assim é melhor que a alegria terrena. Embora já tenha afirmado que em ambas há aflição (Ec 1.17), agora ele apresenta razões mais conclusivas, depois de explicar que experimentou ambas de tal modo que ninguém mais depois dele precisará, ou talvez poderá, repetir a experiência no mesmo nível, seja de sabedoria ou de prazeres terrenos (como riqueza, poder, etc.), para saber o que é melhor. A vantagem mais evidente da sabedoria é que ela descortina ao homem a realidade nua e crua da vida, fazendo-o perceber as coisas tais como são, e ensinando-o a não criar expectativas vãs sobre sua condição neste mundo; ao passo que os prazeres dos sentidos criam no coração preferência por estes e rejeição aos incômodos, às adversidades, e, consequentemente, fazem-no desejar e esperar somente a alegria, o riso, levando-o a se esquecer de que há males que são inevitáveis. E essa diferença de perspectiva é fundamental para o homem alcançar a verdadeira felicidade. Contudo, aos que buscam na sabedoria um refúgio contra os males deste mundo, como se ela os tornasse melhores ou lhes assegurasse uma sorte melhor que a dos tolos nas coisas que sucedem debaixo do sol, o pregador alerta com a sua reflexão: “Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim” (v. 15). O sábio não prova somente o bem, nem o tolo somente o mal, mas como morre um, assim morre o outro; as adversidades que sucedem a um também são conhecidas pelo outro, sem que se possa atribuir qualquer uma destas coisas ao fato de um ser sábio e ao outro ser tolo. Notemos que, por atentar para esse fato, o salmista quase desfaleceu, até que passou a considerar tudo à luz de uma realidade transcendente ao que se faz debaixo do sol (cf. Sl 73.2-5, 13-14, 16-17). E a frustração pode ser ainda maior para aquele que espera mais do que se deve esperar de um viver sábio e laborioso, pois, por maior que seja o esforço e sofrimento que tenha empregado para perpetuar o seu trabalho e obter alguma satisfação duradoura, quão facilmente sua obra pode ser destruída pela tolice dos que vierem depois dele! Fica, então, a constatação de que não se deve esperar do trabalho, da sabedoria, mais do que aquilo que eles nos ensinam sobre a vida: que “tudo é vaidade e aflição de espírito” (v. 17).
III – O PROVEITO DESTA VIDA (VV. 24-26) Removendo toda falsa esperança em relação àquilo que se faz debaixo do sol, o pregador sabiamente nos direciona ao melhor uso que podemos fazer destas coisas, que é desfrutá-las com alegria, no entendimento de que são presentes de Deus. Sabemos que elas são transitórias, e que é loucura esperar encontrar felicidade nelas; mas nem por isso devem ser rejeitadas, pois foram criadas por Deus, e recebêlas em nossa vida como demonstrações da Sua bondade, como sinal de que Ele não nos abandonou em um mundo onde tudo o mais é sofrimento, tristeza e frustração (cf. Sl 104.14-15). O pregador havia chegado a essa conclusão, de que ao homem que teme a Deus, nada do que sucede debaixo do sol cria falsas expectativas em seu coração; todas as coisas contribuem para o seu bem, e ele sabe como usar de tudo para glória de Deus (Rm 8.28). ao passo que o ímpio e incrédulo não obtém nenhum proveito da vida, nem aprende nada sobre a sua realidade, nem como transcende-la; mas antes se engana numa busca frustrante que eventualmente se revelará um total desperdício de sua vida (Tt 1.15; Lc 12.16-20).
CONCLUSÃO Que possamos como o sábio Salomão perceber e desfrutar as alegrias que Deus manifesta para conosco nas coisas mais simples da vida, mas que se repetem todos os dias, ou com frequência, e que são um claro testemunho de quão grande é a Sua bondade e o Seu amor para conosco, e do quanto maior ela será quando não estivermos mais limitados à transitoriedade deste mundo nem mais sujeitos às aflições desta existência terrena.
PARA USO DO PROFESSOR
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