LIÇÃO 7
LIDANDO COM A ADVERSIDADE E O PECADO
TEXTO ÁUREO: “Porque a sabedoria serve de sombra, como de sombra serve o dinheiro; mas a excelência da sabedoria é que ela dá vida ao seu possuidor.” (Ec 7.12)
LEITURA BÍBLICA: ECLESIASTES 7.1-15
INTRODUÇÃO Salomão prossegue seu discurso num estilo mais proverbial e categórico, que pudemos perceber que ele iniciou no capítulo 6, embora não perca de vista o tema principal nem abandone a questão que vem desenvolvendo a respeito de como lidar com os problemas e males que há debaixo do sol. Ao mesmo tempo, ele se mantém firme no propósito de orientar os seus leitores a buscarem em Deus a verdadeira felicidade, que a maioria dos homens busca inutilmente nas vaidades desta vida.
I – APRENDIZADO E PACIÊNCIA NA ADVERSIDADE (VV. 1-15) A essa altura do seu discurso, depois de muito argumentar sobre a vaidade de se acumular riquezas e não poder desfrutar do bem, e que é melhor o contentamento com pouco do que a inquietação com muito; o pregador dá um passo além e sentencia que nenhum prazer ou agrado debaixo do sol é melhor e mais valioso do que a virtude pela qual um homem vem a ser conhecido por outros: “Melhor é a boa fama do que o melhor unguento”. E, visto que na morte a integridade dessa fama é posta à prova, na medida em que a memória do homem de virtude permanece entre os vivos, a Escritura arremata que “o dia da morte” é melhor “do que o dia do nascimento de alguém”. Em comparação com as incertezas e sofrimentos que aguardam aquele que vem ao mundo, o que deixa esta existência, por outro lado, pode fazê-lo com a certeza do que fez e de quem foi, e um senso de segurança quanto ao que o aguarda na eternidade. Mas a consideração da morte não é útil apenas para aquele que está para partir, mas também para os que “assistem” à partida de outrem: como diz o sábio, na casa do luto – isto é, na contemplação e consideração da morte, vemos “o fim de todos os homens; e os vivos o aplicam ao seu coração”. Muitos entretenimentos e contentamentos de que desfrutamos nesta vida podem não ser pecaminosos, mas, numa atitude tola, podemos facilmente esquecer de que é tudo vaidade, e quanto mais permanecemos na casa onde há banquete, na casa da alegria, mais nos iludimos e imaginamos que essas coisas permanecerão, e maior é a surpresa quando a adversidade bate à nossa porta (cf. Jó 21.7, 12-14). E qualquer que de algum modo nos incite a não nos acomodarmos ao nosso gosto natural por tais prazeres, seja nos repreendendo ou exortando, deveria ser apreciado pelo favor e benefício que nos está fazendo (cf. Pv 27.6; Lc 6.21, 25). Contudo, o pregador também sabe quão terrível é a tentação que aquele que deseja ser sábio sofre ao constatar o mal que prevalece neste mundo. A perspectiva da injustiça que nunca é vencida e o poder corruptor de presentes e favores oferecidos em troca da injustiça, são capazes de desviar até o sábio. Mas o caminho que este deve seguir é o da paciência, ou melhor, da longanimidade, perante os homens, fugindo à tentação de irar-se e querer fazer justiça com as próprias mãos, pois tudo um dia vai acabar – a injustiça também é vaidade (cf. Ef 4.26, 27; Rm 12.19). É necessário também ser humilde diante de Deus, reconhecendo que Ele fará justiça no Seu tempo, e que não se deve lutar contra a natureza das coisas que Deus dispôs desta ou daquela forma, por mais que não agrade nosso senso de justiça. Notemos como Salomão valoriza aqui a sabedoria como o bem mais importante daquele que deseja vencer todas as coisas debaixo do sol – não aquela que nos primeiros capítulos ele havia apresentado como uma inquirição acerca de do fundamento e da razão de todas as coisas; mas a sabedoria que, a partir de uma constatação de que tudo é vaidade, o homem trilha seus caminhos debaixo do sol no temor de Deus. É com esta sabedoria que ele nos recomenda desfrutar da prosperidade e ao mesmo tempo considerar a adversidade – isto é, considerar o lugar desta na providência divina e, portanto, que ela nos sobrevém não como um mal, mas como um bem, para lembrarmos quem somos, onde estamos e o que deve realmente importar para nós.
II – MODERAÇÃO NUM MUNDO INJUSTO (VV. 16-22) Salomão ainda considera o caso da injustiça prevalecendo ou sendo confundida com a justiça, e aqui lembra o que ele mesmo chegou a ver em seus dias. É uma constatação comum, de fato, mas isto não deveria nos levar a conclusões precipitadas, porque, como já demonstrado, Deus trará tudo a juízo, e endireitará todas as coisas. O que ocorre é que “não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque”. Debaixo do sol, não há justiça perfeita, e ainda que houvesse, tampouco seria devidamente reconhecida pelos homens; mas, ao mesmo tempo, como ainda existe entre os homens um senso comum do que é certo e errado, o pregador recomenda aqui aos seus leitores a moderação entre uma e outra. Não ser demasiadamente justo certamente não pode significar admitir alguma medida de injustiça em si mesmo, mas sim em relação ao comportamento de outros. Aquele que deseja ser juiz do próximo e se imiscuir em questões alheias, ou mesmo gabar-se de sua própria justiça perante outros, não estará seguro contra impiedade de outros: “por que te destruirias a ti mesmo?” Já não ser demasiadamente ímpio é um freio à tendência de o tolo considerar que a impunidade de uma injustiça ou pecado seu significa que ele pode dar um passo além e agravar o seu erro. Há crimes e pecados tão graves que mesmo os homens mais indiferentes à moral e às coisas de Deus reagiriam com indignação e clamariam por punição. Aquele, porém, que pauta seus caminhos segundo o temor a Deus estará seguro contra esses dois extremos (cf. Sl 37.23-24).
III – O HOMEM É O ÚNICO CULPADO DE SUA AFLIÇÃO (VV. 23-29) O sábio que foi rei em Jerusalém recorre agora à sua própria experiência para expressar uma grande decepção com as limitações da capacidade humana. De certo modo repetindo o que já havia dito no primeiro capítulo, Salomão fala sobre suas inquirições acerca da sabedoria, em seu desejo sincero de compreender e distinguir a razão e os desvarios, a fim de servir a Deus e ao próximo como convinha; mas aqui não apenas diz quão pequenos foram seus avanços em direção a uma solução para os problemas filosóficos que propôs a si mesmo, mas acrescenta que obteve uma resposta pela experiência – uma triste e amarga resposta, ao constatar o terrível prejuízo que uma mulher “cujo coração são redes e laços e cujas mãos são ataduras” pode causar a um homem que cair em seus engodos. Esta pode ser considerada uma reflexão bastante pessoal, mas que, no contexto do capítulo, é citada para exemplificar como o homem pode ser sutilmente desviado da retidão e perder-se por completo, a menos que Deus seja misericordioso para livrá-lo (cf. 1 Rs 11.1). Naturalmente, o pregador não se refere às mulheres de modo geral, mas sim àquelas com quem conviveu quando começou a desposar as filhas das nações vizinhas e estas o fizeram erguer altares aos falsos deuses. Sem dúvida recuperado pela graça de Deus dessa terrível experiência, o sábio expressa quão verdadeira é a constatação de que os males existem por culpa nossa, por não darmos ouvidos à voz da sabedoria – e dar ouvidos à mulher perversa é apenas um desses erros. Daí a sua conclusão: “Deus fez ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (cf. Pv 5.7-9).
CONCLUSÃO Na lição de hoje consideramos diversas aplicações da sabedoria divina, e que o caminho de Deus para nós em meio às injustiças e desvarios dos homens é o da paciência e humildade, bem como da moderação, pois sabemos que todas as coisas debaixo do sol vão passar, e que somente Deus pode implantar uma justiça perfeita, e é na esperança desse fim que se estenderá por toda a eternidade que aguardamos o dia em que seremos redimidos de todas as nossas debilidades e imperfeições que ainda de alguma afligem nossa existência.
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